A alimentação natural é hoje uma das opções disponíveis para tutores que desejam variar a forma de cuidar da nutrição de seus cães. Ela não substitui obrigatoriamente a ração, que continua sendo uma escolha válida e prática, já que existem no mercado opções completas e balanceadas.
O crescimento da alimentação caseira acontece, sobretudo, entre tutores que buscam maior controle sobre os ingredientes oferecidos. Dentro desse cenário, surge uma questão central: seria melhor oferecer a dieta crua ou cozida? A resposta não é simples e envolve compreender como os alimentos se comportam no organismo do cão, quais os riscos de contaminação e como garantir o equilíbrio nutricional.
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Digestibilidade e absorção de nutrientes
Estudos mostram que a dieta crua tende a apresentar uma digestibilidade ligeiramente maior, com melhor aproveitamento de proteínas e energia. Isso significa que os cães podem utilizar mais eficientemente alguns nutrientes, de forma parecida com o que acontece quando humanos consomem frutas e vegetais frescos.
No entanto, parte desse resultado está ligada à qualidade dos ingredientes usados e não apenas ao fato de estarem crus. Já a dieta cozida, quando feita de forma equilibrada, também apresenta boa digestibilidade, com a vantagem de reduzir riscos microbiológicos.
O ponto mais debatido em relação à alimentação crua é a presença de microrganismos patogênicos. Pesquisas publicadas em revistas veterinárias indicam que carnes cruas podem carregar Salmonella, Listeria e E. coli resistentes a antibióticos.
Esses agentes podem causar doenças tanto em cães quanto em humanos que convivem com eles. Para se ter uma ideia, é como se uma família optasse por consumir carne crua diariamente: o risco de intoxicação existe, especialmente se não houver higiene rigorosa. No caso dos alimentos cozidos, esse perigo é consideravelmente menor, já que o calor elimina a maior parte das bactérias.
Uma prática que vem sendo estudada para aumentar a segurança é o resfriamento profilático, em que os alimentos crus são mantidos em congelamento profundo por um período determinado antes do consumo. Esse processo reduz a carga de parasitas e bactérias, tornando a dieta crua mais segura, embora não elimine totalmente os riscos. No caso dos alimentos cozidos, o perigo é consideravelmente menor, já que o calor elimina a maior parte das bactérias.
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Desequilíbrios nutricionais
Um dos maiores desafios da dieta natural é garantir o equilíbrio entre vitaminas, minerais e macronutrientes. Há relatos científicos de cães alimentados com dietas cruas caseiras que desenvolveram problemas ósseos por falta de cálcio e fósforo, além de intoxicações por excesso de vitamina A. Isso pode ser comparado ao que acontece quando um humano adota uma dieta restritiva sem acompanhamento médico: mesmo ingerindo alimentos considerados saudáveis, o risco de carência nutricional é grande. Nas dietas cozidas, esse problema também existe se a formulação não for feita por um nutricionista veterinário, mas o processo de cocção ao menos reduz o risco de microrganismos.
Por isso o indicado é sempre o acompanhamento de um nutricionista veterinário, que vai saber exatamente o que suplementar na dieta do seu cão, avaliando ele de forma individualizada.
Percepção dos tutores
Pesquisas com tutores de cães que oferecem alimentação crua relatam benefícios percebidos, como fezes mais firmes, melhora da pelagem e dentes mais limpos. Esses relatos, no entanto, são baseados em experiências individuais e nem sempre confirmados por estudos clínicos de longo prazo. Na alimentação cozida, muitos tutores valorizam a praticidade e a segurança, principalmente em casas com crianças ou pessoas imunossuprimidas.
Sustentabilidade e custo
Um ponto que começa a ganhar destaque é o impacto ambiental da alimentação dos pets. Reportagens recentes no Reino Unido mostraram que dietas naturais cozidas, quando bem planejadas, podem ser mais sustentáveis e acessíveis que dietas cruas, que exigem maior controle de armazenamento e transporte. Para o tutor, isso também representa menos gastos com medidas extras de segurança, como freezers adicionais e maior higienização do ambiente.
Na prática, a escolha entre alimentos crus ou cozidos para cães se parece com as decisões que humanos tomam na própria dieta. Comer vegetais crus pode preservar mais vitaminas, mas cozinhar os alimentos torna-os mais seguros e, em alguns casos, até mais fáceis de digerir. Para os cães, a lógica é parecida: o cru pode trazer benefícios pontuais, mas o cozido oferece mais segurança microbiológica. O equilíbrio entre as duas formas pode até ser considerado, desde que haja supervisão de um profissional capacitado.
Conclusão
A alimentação natural pode trazer benefícios quando bem formulada, seja crua ou cozida. O que a ciência reforça é que a segurança e o equilíbrio nutricional devem vir sempre em primeiro lugar. Enquanto o cru pode oferecer maior digestibilidade, o cozido reduz os riscos de contaminação. A decisão final deve ser feita junto a um nutricionista veterinário, levando em conta a realidade da família, a saúde do cão e a capacidade de manter a dieta de forma segura e consistente. A individualidade no caso para cada cão também é um diferencial, o que é bom para um, às vezes não é o ideal para outro.