Muitos tutores de cães ficam confusos quando se deparam com termos como “crise epiléptica” e “epilepsia”. Embora relacionados, esses conceitos possuem significados distintos e compreendê-los é fundamental para oferecer o melhor cuidado ao seu pet. A epilepsia em cães é uma condição neurológica que pode afetar animais de todas as idades e raças, exigindo atenção especializada e acompanhamento veterinário adequado.
Segundo especialistas em neurologia veterinária, a diferenciação entre esses termos é crucial para um diagnóstico preciso e tratamento eficaz. Enquanto uma crise epiléptica pode ser um evento isolado causado por diversos fatores, a epilepsia representa uma condição crônica que requer manejo contínuo. Esta distinção não apenas influencia o prognóstico do animal, mas também determina as estratégias de tratamento e os cuidados necessários no dia a dia.
O que é epilepsia em cães e como se diferencia de crises epilépticas
A crise epiléptica é um sintoma neurológico que pode ser desencadeado por diversos fatores externos ou internos. Ela representa um episódio pontual de atividade elétrica anormal no cérebro, que pode ser causado por intoxicações, alterações metabólicas, lesões cerebrais, hipoglicemia, problemas hepáticos ou até mesmo febre alta. Essas crises são sinais de que algo não está funcionando adequadamente no organismo do animal e podem ocorrer uma única vez ou esporadicamente.
Por outro lado, a epilepsia em cães é uma doença neurológica crônica caracterizada por crises epilépticas recorrentes e espontâneas, sem um fator desencadeante identificável no momento das crises. Esta condição está relacionada a alterações permanentes no funcionamento do cérebro, resultando em uma predisposição contínua para desenvolver crises. A epilepsia é diagnosticada quando um animal apresenta pelo menos duas crises não provocadas, separadas por mais de 24 horas.
A distinção entre esses conceitos é fundamental para o prognóstico e tratamento. Enquanto uma crise epiléptica isolada pode ser resolvida tratando-se a causa subjacente, a epilepsia requer um manejo a longo prazo com medicamentos anticonvulsivantes e acompanhamento veterinário regular. O diagnóstico preciso é essencial para determinar se o animal possui epilepsia verdadeira ou se as crises são secundárias a outras condições médicas.
Principais causas e tipos de epilepsia canina
Epilepsia primária ou idiopática
A epilepsia primária, também conhecida como idiopática, é a forma mais comum da doença em cães. Caracteriza-se pela ausência de uma causa estrutural identificável no cérebro, sendo considerada de origem genética ou hereditária. Este tipo de epilepsia em cães geralmente se manifesta entre os 6 meses e 6 anos de idade, com maior incidência entre 1 e 3 anos. Certas raças apresentam predisposição genética, incluindo Pastor Alemão, Labrador, Golden Retriever, Beagle, Cocker Spaniel e Border Collie.
Na epilepsia primária, os exames neurológicos e de imagem do cérebro geralmente apresentam resultados normais, uma vez que não há lesões estruturais visíveis. O diagnóstico é feito por exclusão, após descartar outras causas possíveis. E isso quer dizer fazer muitos exames, por isso, não se assuntem se o vet pedir.
Epilepsia secundária ou sintomática
A epilepsia secundária resulta de lesões estruturais no cérebro, como tumores, traumas cranianos, infecções (encefalite, meningite), malformações congênitas, acidentes vasculares cerebrais ou cicatrizes cerebrais. Este tipo pode se desenvolver em qualquer idade, dependendo da causa subjacente. O prognóstico varia significativamente conforme a natureza e extensão da lesão cerebral, sendo que alguns casos podem ser mais desafiadores de controlar com medicamentos.
O tratamento da epilepsia secundária frequentemente envolve não apenas o controle das crises, mas também o manejo da condição que causou as lesões cerebrais. Em alguns casos, quando possível, o tratamento da causa primária pode resultar na redução ou eliminação das crises epilépticas.
Sintomas e sinais de alerta da epilepsia em cães
Reconhecer os sintomas da epilepsia ou de uma crise epilética em cães é crucial para buscar ajuda veterinária adequada e garantir o bem-estar do animal. As crises epilépticas podem se manifestar de diferentes formas, desde convulsões generalizadas até alterações comportamentais sutis. Os sinais mais comuns incluem:
- Convulsões tônico-clônicas: caracterizadas por rigidez muscular seguida de movimentos rítmicos e involuntários
- Perda temporária de consciência: o animal fica inconsciente durante a crise
- Salivação excessiva: produção abundante de saliva durante e após a crise
- Movimentos de pedalagem: movimentos das patas como se estivesse correndo
- Perda do controle esfincteriano: urinar ou defecar involuntariamente
- Desorientação pós-crise: confusão e comportamento atípico após o episódio
Embora as pessoas só reconheçam a crise quando o cão está tremendo e se debatendo, vale lembrar que algumas são silenciosas, o cão pode estar só deitado com os olhos tremendo (Nistagmo), ou se você perceber que ele levantou muito agitado e desorientado, ele pode também ter passado por uma crise silenciosa.
É importante observar que nem todas as crises são dramáticas ou óbvias. Algumas podem se manifestar como crises focais, apresentando sintomas mais sutis como movimentos repetitivos de mastigação, olhar fixo, tremores localizados ou comportamentos estranhos como correr em círculos ou “caçar moscas” imaginárias. Estes episódios podem durar apenas alguns segundos ou minutos, mas são igualmente significativos.
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A frequência das crises varia consideravelmente entre os animais. Alguns cães podem ter crises esporádicas, com intervalos de meses entre os episódios, enquanto outros podem apresentar crises mais frequentes. Crises que duram mais de 5 minutos ou crises consecutivas sem recuperação completa entre elas constituem uma emergência veterinária e requerem atendimento imediato, pois podem causar danos cerebrais permanentes ou até mesmo ser fatais.
Como agir durante uma crise epiléptica do seu cão
Primeiros socorros durante a crise
Presenciar uma crise epiléptica em seu cão pode ser uma experiência assustadora, mas manter a calma é fundamental para ajudar adequadamente o animal. Durante uma crise, nunca tente segurar ou restringir os movimentos do cão, pois isso pode causar ferimentos tanto no animal quanto no tutor. Em vez disso, remova objetos próximos que possam causar lesões, como móveis com quinas ou objetos que possam cair sobre o animal.
Evite colocar a mão ou qualquer objeto na boca do cão durante a crise. Contrariamente ao mito popular, cães não “engolem a língua” durante convulsões, e tentar abrir a boca forçadamente pode resultar em mordidas graves. Mantenha o ambiente silencioso e com pouca luz, pois estímulos sensoriais intensos podem prolongar a crise. Cronometrar a duração da crise é importante para fornecer informações precisas ao veterinário.
Cuidados pós-crise
Após a crise, o cão entrará no período pós-ictal, caracterizado por confusão, desorientação e fadiga. Este período pode durar de alguns minutos a várias horas. Durante esta fase, ofereça um ambiente calmo e seguro, permitindo que o animal se recupere gradualmente. Muitos cães ficam temporariamente cegos ou surdos após uma crise, então evite movimentos bruscos e fale com voz suave e tranquilizadora. Muitos ficam andando um pouco desorientados e até vocalizando, você tem que entender que eles não entendem o que está acontecendo, e estão se sentindo “esquisitos”.
Mantenha um registro detalhado das crises, anotando data, hora, duração, sintomas observados e possíveis fatores desencadeantes. Essas informações são valiosas para o veterinário avaliar a progressão da doença e ajustar o tratamento conforme necessário. Procure atendimento veterinário imediato se a crise durar mais de 5 minutos, se houver crises consecutivas, ou se for a primeira crise observada no animal.
É importante entrar em contato com um veterinário mesmo se for uma crise rápida, pois pode significar envenenamento, por exemplo.
Tratamento e cuidados para cães com epilepsia
O tratamento da epilepsia em cães baseia-se principalmente no uso de medicamentos anticonvulsivantes para controlar a frequência e intensidade das crises. Ma tudo depende da causa diagnosticada, apenas o seu vet de confiança pode te passar o medicamente ideal.
O sucesso do tratamento depende da adesão rigorosa à medicação prescrita. Nunca interrompa ou altere a dosagem dos medicamentos sem orientação veterinária, pois isso pode desencadear crises de rebote ou status epilepticus. A maioria dos cães com epilepsia precisará tomar medicação pelo resto da vida, mas com o tratamento adequado, cerca de 70-80% dos animais podem ter suas crises completamente controladas ou significativamente reduzidas.
Além da medicação, alguns cuidados ambientais e de estilo de vida podem ajudar no manejo da condição. Manter uma rotina regular de alimentação, exercícios e sono pode ajudar a reduzir fatores estressantes que podem desencadear crises. Evite mudanças bruscas na dieta ou ambiente, e mantenha o animal longe de substâncias tóxicas. O acompanhamento veterinário regular é essencial para monitorar a eficácia do tratamento e detectar possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, incluindo exames de sangue periódicos para avaliar a função hepática e renal.