O Brasil é um país de enorme diversidade natural e cultural, e isso também se reflete no mundo dos dogs. Ao longo dos séculos, diferentes regiões brasileiras deram origem a cães adaptados ao clima, ao trabalho no campo, à caça e à convivência com os humanos. Muitos surgiram da seleção natural e da necessidade prática dos fazendeiros, caçadores e colonizadores. Outros foram desenvolvidos de forma intencional, cruzando raças importadas com animais locais para atender funções específicas.
Hoje, a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) reconhece oficialmente dez raças com origem no Brasil, das quais apenas três já receberam também o reconhecimento internacional da Federação Cinológica Internacional (FCI). Algumas raças quase foram extintas, outras ainda estão em processo de consolidação, mas todas fazem parte da identidade nacional e revelam a importância dos cães como parceiros de trabalho e companhia.
Raças brasileiras reconhecidas pela CBKC e pela FCI
Fila Brasileiro
O Fila Brasileiro é a raça mais conhecida do país e foi a primeira a receber reconhecimento internacional. Pertence ao Grupo 2 (Molossos e Boiadeiros Suíços). É um cão de grande porte, musculoso e imponente, criado para guarda e defesa.
Sua origem é cercada de teorias. Uma delas aponta para o cruzamento de mastins ingleses, antigos buldogues e bloodhounds trazidos ao Brasil no período colonial. Outra hipótese sugere a influência de cães ibéricos primitivos trazidos por portugueses e espanhóis. Independentemente da origem exata, sabe-se que o Fila foi fundamental na proteção de fazendas, condução de gado e até mesmo na vida dos bandeirantes, servindo como guardião leal e incansável.
O termo “fila” vem do verbo “filar”, que significa “agarrar e não soltar”, característica marcante da raça. Apesar do porte intimidador, o Fila é um cão fiel, seguro e apegado à família. No entanto, é reservado e desconfiado com estranhos, sendo considerado um dos melhores cães de guarda do mundo.
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Terrier Brasileiro (Fox Paulistinha)
Ágil, esperto e cheio de energia, o Terrier Brasileiro é popularmente conhecido como “fox paulistinha” ou “foquinho”. Pertence ao Grupo 3 (Terriers) e foi reconhecido pela FCI em 2006.
Sua origem remonta ao final do século XIX e início do XX, quando famílias brasileiras traziam cães terriers da Europa. Esses animais acabaram cruzando com cães locais, resultando em uma raça adaptada ao clima e ao cotidiano rural brasileiro. Outra hipótese mais antiga aponta para a chegada de cães espanhóis e portugueses caçadores de roedores ainda no período colonial.
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De porte pequeno a médio, o Terrier Brasileiro tem corpo esbelto, pelagem curta e predominantemente branca com manchas. Sua função original era caçar pragas, como ratos, mas hoje é um excelente cão de companhia, sempre alerta, brincalhão e muito apegado aos tutores.
Rastreador Brasileiro
Conhecido também como “urrador” ou “pantaneiro”, o Rastreador Brasileiro é um cão de caça classificado no Grupo 6 (Sabujos e Rastreadores). Foi desenvolvido de forma intencional a partir do foxhound americano pelo cinófilo Oswaldo Aranha Filho, que buscava criar um cão ágil, resistente ao calor e com grande habilidade de rastrear.
O resultado foi um cão de porte médio a grande, com faro excepcional e latido característico, usado principalmente para encurralar animais como tatus, porcos-do-mato e até onças. Chegou a ser considerado extinto na década de 1970, mas graças a registros e exemplares preservados em fazendas, a raça foi recuperada e voltou a ser reconhecida oficialmente.
O Rastreador Brasileiro é alegre, corajoso, persistente e apegado à família. Possui pelagem curta e clara, grande resistência física e disposição para correr longas distâncias em terrenos difíceis.
Raças brasileiras reconhecidas pela CBKC, mas ainda sem reconhecimento internacional
Buldogue Campeiro
Originário do sul do Brasil, especialmente Santa Catarina e Paraná, o Buldogue Campeiro descende de buldogues europeus trazidos por imigrantes. Foi usado por décadas como cão de captura de gado arredio e como guardião de fazendas.
De porte médio, robusto e com maxilares fortes, o Campeiro é um cão vigilante e equilibrado. Embora tenha quase desaparecido, a raça foi resgatada por criadores dedicados e hoje volta a ganhar espaço.
Buldogue Serrano
Similar ao Campeiro, o Buldogue Serrano também descende de antigos buldogues europeus. Sua diferença está na adaptação ao relevo montanhoso da região sul, sendo mais leve e ágil para o trabalho nas serras.
É um cão rústico, corajoso e disciplinado, mas também dócil com a família. Foi historicamente usado na lida com o gado, passando por debaixo de cercas e percorrendo terrenos íngremes.
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Dogue Brasileiro
O Dogue Brasileiro, também chamado de Bull Boxer, surgiu de forma curiosa: um cruzamento acidental entre um Bull Terrier e uma Boxer, realizado pelo criador Pedro Ribeiro Dantas. Uma cadela chamada Tigresa apresentou características excepcionais e deu origem ao desenvolvimento da nova raça.
É um cão forte, ágil e equilibrado, com função principal de guarda urbana e proteção familiar. Apesar da aparência imponente, é afetuoso, obediente e apegado aos tutores.
Ovelheiro Gaúcho
Patrimônio cultural e genético do Rio Grande do Sul, o Ovelheiro Gaúcho é um cão pastor especializado em conduzir ovelhas e bovinos. Sua eficiência é tamanha que, segundo ditados regionais, um bom ovelheiro substitui até três peões.
Sua origem não foi planejada, mas resultado de cruzamentos entre cães de pastoreio europeus, como o Border Collie, o Collie de pelo longo e o Pastor Alemão. Com o tempo, a seleção natural e a prática no campo moldaram um cão ágil, obediente e resistente.
O Ovelheiro Gaúcho é de porte médio, com pelagem variada e comportamento ativo, sempre disposto ao trabalho. Atualmente, há esforços para que seja reconhecido internacionalmente.
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Pastor da Mantiqueira
Também chamado de “pastorzinho caipira”, o Pastor da Mantiqueira é típico da Serra da Mantiqueira, no Sudeste. Foi usado por gerações de peões na condução de rebanhos em terrenos íngremes e de difícil acesso.
Sua origem é atribuída ao cruzamento de cães pastores trazidos por imigrantes europeus, preservados pela seleção natural no isolamento da serra. É um cão inteligente, resistente e atento, adaptado ao trabalho árduo.
Possui pelagem variada em comprimento e textura, e porte médio. É ágil, leal e com forte instinto de proteção ao rebanho.
Veadeiro Nacional
Antiga raça de caça brasileira, o Veadeiro Nacional foi amplamente usado na caça do veado-campeiro. Sua popularidade declinou com a proibição da caça de cervídeos no país, o que quase levou à extinção da raça. É uma raça antiga nativa muito comum em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina (onde era chamado de Catarinense), o Veadeiro Nacional é um cão de caça que vem sendo recuperado graças ao excelente trabalho de pequenos grupos de criadores e esportistas, que hoje contam com apoio da CBKC através do programa de preservação.
De porte médio, corpo esguio e musculoso, combina características de galgos e sabujos. É veloz, resistente e de faro apurado. Atualmente, ainda existe em menor número, sendo usado em caçadas legais de javalis.