O buldogue campeiro recebeu em 2024 o reconhecimento provisório pela Federação Cinológica Internacional (FCI), entidade que regula os padrões de centenas de raças em todo o mundo. Se aprovado definitivamente, ele se juntará ao seleto grupo de raças brasileiras com reconhecimento mundial: o fila brasileiro, o terrier brasileiro e o rastreador brasileiro.

Mas o que torna o buldogue campeiro tão especial e como uma raça consegue es
se tipo de reconhecimento internacional? Vamos descobrir!
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Buldogue campeiro: a nova promessa canina brasileira
O buldogue campeiro é um marco importante para a cinofilia brasileira. Em 2024, a raça obteve o reconhecimento provisório pela FCI, o primeiro grande passo para se tornar oficialmente a quarta raça brasileira reconhecida mundialmente.
Atualmente, a CBKC (Confederação Brasileira de Cinofilia) registra aproximadamente 13 mil exemplares da raça, com maior concentração no Rio Grande do Sul e regiões próximas, incluindo Santa Catarina e até mesmo países vizinhos como Uruguai e Argentina. No entanto, já existem espécimes em outras regiões do Brasil e, gradualmente, em outros continentes.
Esse reconhecimento provisório que dizer que a raça passa por um período de observação e análise que pode durar até dez anos. Durante esse tempo, a FCI examina diversos aspectos, desde a transmissão genealógica das características até a diversidade genética entre diferentes linhagens.
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História e origem do buldogue campeiro
Como o próprio nome sugere, o buldogue campeiro descende dos buldogues ingleses trazidos para o sul do Brasil pelos imigrantes europeus. Ao chegarem às terras brasileiras, esses cães foram adaptados pelos fazendeiros locais, através de cruzamentos seletivos, para atender às necessidades do trabalho no campo.

Filhotes de buldogue campeiro / CBKC
A adaptação para o trabalho rural
O objetivo dos criadores gaúchos era desenvolver um animal capaz de localizar, capturar e conduzir o gado em ambientes desafiadores, como matas fechadas e áreas pantanosas. Essa função exigia um cão resistente e forte, diferente do buldogue inglês tradicional.
Além do trabalho com o gado nos campos, esses cães também desempenhavam importante papel nos antigos abatedouros, onde ajudavam a conter os animais antes do abate. Essa dupla funcionalidade moldou características físicas e comportamentais específicas que definem a raça até hoje.
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A expansão da raça para o Centro-Oeste brasileiro ocorreu principalmente na década de 1960, quando muitos gaúchos migraram para o Mato Grosso do Sul, levando consigo seus cães de trabalho. No entanto, com a modernização dos processos sanitários nos abatedouros e a introdução de outras raças no Brasil, o buldogue campeiro começou a perder espaço e quase desapareceu.
Foi graças a um trabalho dedicado de resgate e preservação, conduzido por criadores gaúchos apaixonados, que a raça sobreviveu ao tempo, ganhou padronização mais definida e finalmente recebeu o reconhecimento oficial da CBKC.
Características físicas e temperamento da raça
O buldogue campeiro é um cão de porte médio, com aparência imponente, corpo compacto e construção robusta, demonstrando força e agilidade em sua estrutura. Seu corpo é ligeiramente retangular, mais longo que alto, com ombros largos e lombo relativamente estreito.
Padrões físicos do buldogue campeiro
A cabeça do buldogue campeiro é ampla, com mandíbulas fortes e sem excesso de rugas. A proporção entre o comprimento da cabeça e o do focinho deve ficar entre 4:1 e 3:1. Diferente do buldogue inglês moderno, seu focinho não é extremamente achatado, sendo funcional para o trabalho com o gado.
Os olhos são ovais, nem profundos nem proeminentes, e as unhas são fortes e escuras, em harmonia com a cor da pelagem, que pode variar bastante. A mandíbula inferior é projetada além da superior apenas o suficiente para permitir que o cão segure o boi durante o trabalho de pastoreio.
Seus membros são vigorosos, musculosos e de ossatura forte, características essenciais para um cão de trabalho que precisa de resistência e força no manejo do gado. A pelagem é curta e pode apresentar diversas colorações.

Temperamento e socialização
Segundo Ricardo Torre-Simões, diretor técnico da CBKC, a característica mais marcante do buldogue campeiro é sua rusticidade inerente ao trabalho no campo. É um cão que pode passar longos períodos sem atenção direta do dono, mantendo-se funcional e equilibrado.
Apesar de ser um cão de trabalho, o buldogue campeiro possui excelente temperamento para a vida familiar. É leal, protetor com a família e carinhoso com crianças. Não é considerado um cão agressivo, mas mantém um instinto de proteção bastante aguçado, herança de suas funções originais.
Essa combinação de rusticidade para o trabalho e docilidade no convívio familiar torna o buldogue campeiro uma raça versátil, adequada tanto para propriedades rurais quanto para lares urbanos com espaço adequado.
O processo de reconhecimento internacional de raças caninas
A Federação Cinológica Internacional (FCI) é composta pelas confederações nacionais (também chamadas de kennel clubs) de 101 países, em todos os continentes. Cada país membro tem autonomia para determinar os padrões de suas raças nacionais e submetê-los à FCI para reconhecimento internacional.
Para uma raça ser considerada apta ao reconhecimento internacional, os criadores precisam seguir um rigoroso protocolo estabelecido pelo kennel club de seu país. Isso inclui a apresentação de documentação detalhada, registros genealógicos, fotografias e outras evidências que comprovem a consistência e a padronização da raça.
O processo geralmente segue estas etapas:
- Reconhecimento nacional pela entidade oficial do país (no caso do Brasil, a CBKC)
- Submissão do padrão da raça à FCI
- Análise técnica pela comissão científica da FCI
- Reconhecimento provisório (onde o buldogue campeiro se encontra atualmente)
- Período de observação e análises (pode durar até 10 anos)
- Reconhecimento definitivo (se aprovada)
Durante o período de observação, a FCI realiza exames, análises e verifica como está ocorrendo a transmissão genealógica das características da raça. São feitas análises de DNA de diversas famílias para confirmar se há diversidade genética suficiente para garantir a saúde da população.
Para os criadores, esse reconhecimento internacional é importante porque, além de valorizar o trabalho de preservação, permite que seus cães participem de competições e exposições internacionais, divulgando as características mais marcantes de cada raça.
Cuidados e considerações para tutores do buldogue campeiro
Se você está considerando ter um buldogue campeiro como companheiro, é importante conhecer as necessidades específicas da raça para garantir seu bem-estar.
Saúde e cuidados veterinários
Por ser uma raça rústica, desenvolvida para o trabalho no campo, o buldogue campeiro tende a ser saudável e resistente. No entanto, como todo cão, precisa de acompanhamento veterinário regular, vacinação e controle de parasitas.
Diferente de outras raças de buldogues, como o buldogue inglês ou francês, o campeiro não sofre de tantos problemas respiratórios, pois seu focinho é mais funcional e menos extremo. Ainda assim, é importante observar qualquer dificuldade respiratória, especialmente em dias quentes.
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Como cão de porte médio e construção robusta, deve-se ficar atento a possíveis problemas articulares, especialmente em animais idosos ou com excesso de peso.
Exercícios e estimulação mental
O buldogue campeiro foi desenvolvido para o trabalho ativo, portanto, precisa de exercícios regulares para manter-se saudável física e mentalmente. Caminhadas diárias, brincadeiras no quintal e, se possível, atividades que simulem suas funções originais de trabalho são recomendadas.
Por ser inteligente e ter instinto de trabalho, também se beneficia de atividades que estimulem mentalmente, como brinquedos interativos, treinamentos de obediência e até esportes caninos como o agility.
Vale ressaltar que, apesar de sua origem rural, o buldogue campeiro pode se adaptar bem à vida urbana, desde que receba exercícios e atenção adequados.
