Cães de Chernobyl desenvolvem mutações genéticas únicas. Veja o que descobriram

Quase 40 anos após o maior desastre nuclear da história, uma descoberta extraordinária está revolucionando nossa compreensão sobre evolução e adaptação. Os cães de Chernobyl, descendentes dos animais abandonados durante a evacuação de 1986, desenvolveram alterações genéticas únicas que difere de tudo o que sabíamos sobre os efeitos da radiação em mamíferos. Um estudo internacional publicado na revista Science Advances revelou que esses cães não apenas sobreviveram, mas evoluíram!

A pesquisa, conduzida pelos cientistas Gabriella J. Spatola e Timothy A. Mousseau, analisou amostras de sangue de 302 cães coletadas entre 2017 e 2019 em três locais estratégicos: a própria usina nuclear, a cidade de Chernobyl e Slavutych. 

pesquisador em traje de protecao coletando lixo plastico em saco de lixo preto ao ar livre no dia ensolarado
Homem equipado em área radioativa. Imagem freepik

Entenda o que aconteceu com os cães de Chernobyl

Em 26 de abril de 1986, a explosão do reator 4 da usina de Chernobyl lançou enormes quantidades de césio-137 e iodo-131 na atmosfera, contaminando mais de 2.600 km² e forçando a evacuação imediata de dezenas de milhares de pessoas. Na pressa da evacuação, muitos animais de estimação foram deixados para trás, incluindo os ancestrais dos atuais cães de Chernobyl.

Esses cães abandonados viveram em um cenário apocalíptico: radiação intensa, falta de cuidados veterinários, escassez de alimento e ausência de intervenção humana regular. Muitos especialistas previram que a população canina seria rapidamente dizimada pelos efeitos devastadores da radiação nuclear. No entanto, o que aconteceu foi totalmente diferente.

Com o passar das décadas, na ausência de presença humana constante, a vida selvagem começou a se restabelecer na zona de exclusão. Cães, lobos, javalis e cavalos passaram a ocupar o espaço, mas os cães desenvolveram transformações genéticas que chamaram a atenção da comunidade científica internacional. Hoje, esses animais vivem entre prédios abandonados, trilhos enferrujados e estruturas corroídas, alimentando-se de restos deixados por visitantes ocasionais e trabalhadores.

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Descobertas científicas que revolucionam a genética canina

Metodologia e locais de pesquisa

A pesquisa foi meticulosamente planejada para compreender as diferenças genéticas entre populações de cães em diferentes níveis de exposição radioativa. Os cientistas coletaram amostras em três locais estratégicos: a usina nuclear de Chernobyl (maior exposição), a cidade de Chernobyl localizada a 15 km de distância (exposição moderada) e Slavutych, construída após o desastre para abrigar trabalhadores, situada a 45 km do epicentro (menor exposição).

cachorro pequeno black mouth cur parado no meio de uma estrada de cascalho cercado por arvores e arbustos
Cão em lugar isolado sozinho. Imagem: freepik

Esta abordagem permitiu aos pesquisadores comparar como diferentes níveis de radiação influenciaram a evolução genética dos cães ao longo de quase quatro décadas. O estudo representa uma análise genéticas abrangentes na população de animais expostas à radiação nuclear a longo prazo.

Resultados surpreendentes sobre diversidade genética

Os testes genéticos revelaram padrões fascinantes de diversidade entre as três populações estudadas. Os cães da zona da usina apresentam baixa diversidade genética e são muito semelhantes entre si, sugerindo um “efeito fundador”, uma população que surgiu de poucos indivíduos e se reproduziu entre si. Este fenômeno é comum em populações isoladas e explica a uniformidade genética observada.

Em contraste, os cães da cidade de Chernobyl exibem diversidade genética muito maior, enquanto os de Slavutych demonstram traços genéticos próximos a raças modernas como labradores e yorkshires. Isso indica introduções mais recentes de cães domésticos na área, mostrando que a população não permaneceu completamente isolada ao longo dos anos.

No total, os pesquisadores identificaram 15 famílias genéticas distintas, com linhagens que se cruzam entre as três localidades. Surpreendentemente, apesar do isolamento geográfico, os cães compartilham ancestralidade com raças populares como pastor alemão, boxer e rottweiler, demonstrando a persistência de linhagens genéticas caninas mesmo em condições extremas.

Adaptações genéticas que desafiam a ciência

A descoberta mais revolucionária do estudo foi a ausência de mutações aleatórias típicas da exposição direta à radiação. Ao invés das mutações danosas esperadas pelos cientistas, os cães de Chernobyl desenvolveram alterações genéticas específicas em mais de 390 regiões do genoma que parecem estar diretamente ligadas à seleção natural e à sobrevivência.

As modificações genéticas identificadas estão concentradas em genes relacionados à reparação do DNA e à resposta imune. Isso sugere que, em vez de sofrerem danos genéticos irreversíveis, os cães de Chernobyl evoluíram mecanismos de defesa contra a radiação. Essa adaptação é comparável, em certos aspectos, aos efeitos da radioterapia em humanos, que apesar de danificar células cancerígenas, também ativa mecanismos de proteção no organismo.

Estudos anteriores com lobos da mesma região já haviam apontado uma resistência maior ao câncer, e agora os cães parecem seguir caminho semelhante. Os cães de Chernobyl apresentam taxas significativamente mais baixas de câncer e maior capacidade de sobrevivência em comparação com populações caninas não expostas à radiação. Esta descoberta contradiz décadas de conhecimento científico sobre os efeitos nocivos da radiação nuclear em mamíferos.

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Implicações revolucionárias para medicina e ciência

As descobertas sobre os cães de Chernobyl ultrapassam a veterinária e abrem possibilidades para extrapolar a descoberta em múltiplas áreas científicas. Para a medicina veterinária, compreender os mecanismos genéticos de resistência ao câncer pode levar ao desenvolvimento de novos tratamentos e terapias preventivas para cães domésticos. Os genes identificados como responsáveis pela resistência à radiação podem ser estudados para criar estratégias de proteção genética.

Na medicina humana, as implicações são igualmente promissoras. Os pesquisadores acreditam que estudar como organismos complexos respondem a ambientes hostis pode contribuir para preparar missões espaciais de longa duração, onde astronautas enfrentarão radiação cósmica intensa. Os mecanismos de reparação de DNA desenvolvidos pelos cães podem inspirar tratamentos para pacientes submetidos à radioterapia.

Além disso, o estudo oferece insights valiosos sobre saúde ambiental e biodiversidade. Compreender como populações animais se adaptam a desastres ambientais pode informar estratégias de conservação e recuperação de ecossistemas afetados por contaminação nuclear ou outros poluentes. Os cães de Chernobyl se tornaram um modelo único para estudar evolução acelerada em condições extremas.

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Cão fazendo raio-x. Imagem: pexels

O futuro dos cães de Chernobyl e suas lições

Os próximos passos da pesquisa prometem revelações ainda mais fascinantes. Os cientistas planejam expandir a investigação para analisar detalhadamente o sistema imunológico dos cães e a presença de parasitas, além de estudar outras populações animais da zona de exclusão. Particular atenção será dada aos efeitos epigenéticos, mudanças na expressão genética causadas por fatores ambientais sem alteração da sequência de DNA.

Embora nossos cães domésticos não enfrentem radiação nuclear, eles demonstram diariamente sua capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, dietas e estilos de vida. A pesquisa reforça a importância de cuidados veterinários preventivos e pode influenciar futuras estratégias de saúde canina.

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