As transfusões de sangue em cães são menos comuns do que em humanos, mas ainda assim são necessárias em diversas situações para salvar a vida dos animais.

Nesses casos, é preciso ter um animal doador que seja saudável e que tenha os requisitos básicos para o procedimento.

Ademais, é preciso processar adequadamente o sangue colhido, de modo que ele possa ser utilizado com a segurança necessária.

Se você está em dúvidas sobre como funcionam as transfusões de sangue em cães, leia esse post até o final porque ele está repleto de informações valiosas sobre esse assunto.

O que são as transfusões de sangue em cães?

cachorro no veterinário

Cachorro no veterinário. Fonte: Freepik

A chamada terapia transfusional é uma técnica muito utilizada em diversas situações, em pacientes com problemas de saúde variados.

A ideia é coletar o sangue e um animal doador que seja competente. Feito isso pode-se tanto fazer a transfusão direta para o outro cão, quanto fracionar o sangue nos seus hemocomponentes para usos mais específicos.

Pode-se utilizar os hemocomponentes na mesma data da coleta ou, pode-se armazená-los para serem utilizados posteriormente.

Entretanto, é fundamental ter conhecimentos profundos sobre os grupos sanguíneos e as práticas transfusionais.

A triagem do cão doador sadio e a análise de compatibilidade são fundamentais para reduzir ao máximo as chances de reações adversas transfusionais.

É importante ter em mente que ao mesmo tempo em que as transfusões em cães salvam vidas, as chances de ocorrerem reações graves também é enorme.

De qualquer maneira existem situações em que essa é a única alternativa para salvar a vida do animal e, por isso o custo benefício faz valer a pena o risco.

Por isso, é muito importante que as pessoas conheçam bem essa técnica e se conscientizem sobre a sua importância.

Dessa forma, estarão preparadas para quando um animal precisar de uma intervenção desse tipo.

Existem diferentes tipos de transfusões em cães

cachorro no veterinário

Cachorro no veterinário. Fonte: Freepik

Existem várias situações em que os cães necessitam de transfusões sanguíneas e, hemorragia intensa é a principal delas.

Nesse caso específico utiliza-se o sangue total, ou seja, da forma como sai do animal doador, com todos os seus componentes.

Mas no caso de animais que estejam com quadro de anemia profunda, pode-se utilizar apenas um concentrado de hemácias, pois o cão precisa apenas desses componentes e da hemoglobina que há neles.

Da mesma forma, um animal com problemas de coagulação pode receber apenas um concentrado de plaquetas.

E cães com índices reduzidos de proteínas podem voltar a ficar saudáveis se receberem a parte líquida do sangue, chamada de plasma.

Pra obter esses componentes, deve-se processar o sangue total e realizar o processamento de maneira separada.

Situações que requerem transfusões de sangue em cães

cachorro no veterinário

Cachorro no veterinário. Fonte: Freepik

Primeiramente, é preciso salientar que as transfusões sanguíneas em cães são procedimentos arriscados e, que merecem total atenção.

Por isso, o profissional veterinário deve avaliar a situação com o máximo de cuidado, para então determinar se vale a pena realiza-lo.

A decisão deve levar em conta o caso, a situação em que o animal se encontra e, os resultados laboratoriais e clínicos do paciente em questão.

Geralmente o veterinário recomenda fazer uma transfusão quando já não existe mais nenhuma outra alternativa viável para salvar a vida do cão.

Por isso, deve-se entender que é o estado clínico do paciente que vai determinar a necessidade ou não de se fazer o procedimento.

No entanto, é importante conhecer bem o motivo para a utilização da técnica e, fazer a transfusão usando apenas os tipos sanguíneos mais importantes para o paciente.

Isso diminui bastante a quantidade de antígenos que ele vai receber, diminuindo as possíveis reações do seu organismo contra agentes estranhos.

De maneira simplificada, os antígenos são moléculas especiais que ativam o sistema imune e, quanto maior o número de células usadas no procedimento, mais forte tende a ser a reação.

Quais são os critérios para o cão ser doador de sangue?

exames de rotina cachorros

Veterinária com o cachorro – Foto: Freepik

As transfusões de sangue em cães funcionam praticamente da mesma forma que nos humanos. Então, o animal doador também tem que se encaixar em alguns critérios essenciais. São eles:

  • Ter idade entre 1 e 8 anos;
  • Ter peso corporal superior a 25 quilos;
  • Usar algum tipo de proteção contra parasitas;
  • Estar saudável e ter todos os parâmetros dentro da normalidade comprovados por exames laboratoriais;
  • Estar em dia com os procedimentos de vacinação e vermifugação;
  • Fêmeas não podem estar prenhes e nem no cio;
  • É preciso que haja um intervalo de três meses entre as doações;
  • O animal não pode ter passado por cirurgias e transfusões nos 30 dias que antecedam a data de doação;
  • O cão precisa ser tranquilo e tolerar bem a manipulação durante o procedimento.

Se você tem um cão de porte grande que tenha todos esses requisitos, pode ajudar outros cães que precisem de transfusões de sangue.

Como tornar o seu cão um doador de sangue

Veterinário a Domicílio

Veterinária e o cão – Foto: Freepik

Como já foi dito, para que o seu animal possa ser doador para transfusões de sangue em cães, é fundamental que ele cumpra os requisitos que já foram citados.

Mas se você tem um animal que se adeque a isso e quer ajudar outros cães, precisa fazer alguns procedimentos de cadastramento.

Primeiramente, é preciso verificar se a sua cidade conta com um hemocentro veterinário, local responsáveis pelas coletas e pelo armazenamento das bolsas de sangue.

Caso não exista nenhum local próximo, fale com o médico veterinário do seu animal e deixe-o registrado como possível doador.

Dependendo da situação, uma única bolsa de sangue pode salvar a vida de três ou quatro animais diferentes.

E há vantagens também para o seu próprio cão, porque se ele for doador, ganha um check-up gratuito de tempos em tempos.

Isso também contribui para detectar precocemente problemas de saúde nele, possibilitando a manutenção das suas funções vitais sempre em ordem.

Como são os testes feitos antes das transfusões de sangue em cães

transfusões de sangue em cães

Cão sendo atendido – Foto: Freepik

Assim como acontece com os seres humanos, os animais também possuem tipos sanguíneos diferentes.

Já se sabe que existem pelo menos treze deles e, a principal diferença está relacionada ao tipo de antígeno presente na superfície celular.

São justamente essas moléculas as responsáveis por desencadearem uma resposta imune desagradável caso o corpo do receptor considere o antígeno desconhecido.

A denominação científica para eles é DEA (antígeno eritrocitário canino), sendo o DEA 1 o mais relevante devido às reações fortes que pode provocar.

Como se dá essa resposta imune?

transfusões de sangue em cães

Cachorro feliz no veterinário. Foto: Freepik

O maior risco associado às transfusões sanguíneas em cães é quando um animal que não possui DEA-1 nas suas hemácias recebe o sangue de um cão que o tenha.

Caso isso aconteça, o animal receptor produzirá anticorpos contra o DEA 1 e, promoverá uma cascata de reações para a destruição de todas as hemácias recebidas.

O maior problema disso é que essa destruição celular gera uma reação inflamatória intensa que pode levar o cão à morte rapidamente se não houver uma intervenção.

Por sorte é bem raro que os cães tenham anticorpos naturais para combater o DEA 1. Dessa forma, a resposta imune na primeira transfusão é mais lenta e fraca.

Sendo assim, tanto a destruição quanto a inflamação não são muito intensas, mantendo o animal em segurança.

No entanto, é preciso ter um grande cuidado caso o animal precise de uma segunda transfusão. Isso porque nesse caso a resposta imunológica já estará pronta e, a reação será bem mais rápida e intensa.

Mesmo que seja raro acontecer uma reação primária, é altamente recomendado que se faça pelo menos um teste simples de compatibilidade para se manter isso sob controle.

A testagem é bem rápida e simples, bastando colocar um pouco de sangue do doador e do receptor juntos.

Caso ocorra algum tipo de aglutinação, então essa não é uma transfusão viável porque existem anticorpos prontos contra o DEA 1.

Por mais que o teste de compatibilidade seja básico e ajude a evitar as reações mais graves, não é possível prever todas as reações.

Existe, muitos outros tipos de reações que podem provocar inflamações e não tem como avaliar todas.

Possíveis reações da transfusão de sangue em cães

transfusões de sangue em cães

Veterinária com cadela no colo. Foto: Freepik

Quando se fala em transfusões de sangue em cães, não se pode jamais desconsiderar a possibilidade de que aconteça algum tipo de reação indesejada.

Aproximadamente entre 3% e 15% dos procedimentos ocasionam alguma reação, que podem ter diferentes níveis de gravidade.

Os sinais mais comuns de reação de intolerância são: coceira, tremores, febre, vômito, salivação excessiva, aumento da frequência respiratória e cardíaca.

Em casos de reações mais graves o animal pode apresentar convulsões associadas a outros sinais e, pode ir a óbito se não houver uma intervenção rápida e efetiva.

Por causa desse risco iminente, recomenda-se que o animal fique sob supervisão de profissionais veterinários capacitados durante um período de pelo menos 24 horas.

Caso haja qualquer sinal de reação, é preciso interromper imediatamente o procedimento e, o animal deve ser medicado adequadamente.

Transfusões de sangue em cães: como é o processo de doação?

transfusões de sangue em cães

Cachorro tomando injeção. Foto Freepik

Muitos tutores têm dúvidas sobre como é o processo de doação para as transfusões de sangue em cães.

Se o animal estiver calmo e permitir o manuseio adequado, é tudo muito rápido, seguro e tranquilo.

Geralmente a coleta é feita diretamente da veia jugular (no pescoço) e, para isso o cão deve ficar confortavelmente deitado de lado.

Antes de fazer a perfuração, o profissional deve palpar a veia para determinar o local exato onde deve inserir a agulha e, então fazer a assepsia local.

É muito importante que um profissional fique encarregado de monitorar o animal durante o procedimento, para detectar rapidamente qualquer alteração no pulso, frequência respiratória ou na coloração das mucosas.

Além disso, é fundamental ficar de olho no comportamento do animal porque qualquer alteração pode indicar que ele esteja com algum problema.

Também é muito importante movimentar a bolsa constantemente para evitar a formação de coágulos.

O processo todo costuma ser bem rápido, levando entre 3 e 10 minutos com vácuo e, no máximo 15 minutos sem. Além disso é indolor e não causa prejuízos graves ao animal.

transfusões de sangue em cães

Veterinário segurando um cachorro – Foto: Freepik

Para a coleta, utiliza-se uma bolsa com anticoagulante, que é a mesma dos bancos de doação de sangue para humanos.

Elas vêm com quantidade de anticoagulante adequada para 450mL de sangue e, esse é o volume ideal de uma coleta para transfusão.

Caso seja necessário coletar uma quantidade de sangue menor, é preciso fazer o ajuste manual da quantidade de anticoagulante.

É muito importante utilizar esse tipo de bolsa no procedimento porque elas são completamente lacradas e, garantem a assepsia.

Além disso, a coleta deve ser realizada utilizando-se uma agulha de calibre grosso porque isso facilita bastante a coleta de quantidades grandes de sangue.

É fundamental que o animal doador esteja de jejum de doze horas porque isso evita ativação plaquetária e resultados enganosos no teste de compatibilidade.

Após o processo de doação para transfusões de sangue em cães, é fundamental deixar o animal de repouso durante um pouco de tempo.

O animal deve se alimentar com uma ração industrializada de qualidade e ter acesso a água fresca logo após o procedimento.

Durante algum tempo, evite estimular o animal a praticar exercícios físicos intensos.

O veterinário responsável pela coleta fica encarregado de te passar todas as informações e recomendações necessárias para garantir a saúde do animal após o procedimento.

Produtos Sanguíneos que podem ser obtidos no procedimento

transfusões de sangue em cães

Cachorro no veterinário – Foto: Freepik

A coleta de sangue padrão acontece em bolsas com anticoagulante e, isso permite o processamento do sangue total nos seus diferentes componentes.

Assim aumentam-se as possibilidades e, também a quantidade de animais que se pode salvar usando apenas um doador.

Então, veja a seguir quais são os produtos possíveis:

  • Sangue fresco ou sangue total: pode ser mantido sob refrigeração por um período de até 35 dias. É usado principalmente em quadros de hemorragia aguda;
  • Papa de hemácias: obtido logo na primeira centrifugação do sangue total, pode ser armazenada por 20 dias. É indicado para casos de anemia grave e repõe muitas células com risco mais baixo de reações;
  • Concentrado de plaquetas: obtido a partir da centrifugação do plasma, tem durabilidade de apenas cinco dias sob agitação constante. Indicado para pacientes que tenham trombocitopenia. Por ser volume baixo, a chance de reação é mínima;
  • Plasma: obtido na centrifugação do sangue total, permanece viável por até 8 dias. Mas o plasma congelado pode ficar viável por até um ano, apesar de ter menos propriedades.

Conclusão

Nesse texto você aprendeu muitas coisas sobre as transfusões de sangue em cães. Se você tiver um animal habilitado, cadastre-o como doador. Isso é muito importante.