O seu cãozinho está com problemas comportamentais?

pergunte para o Alexandre Rossi e Cão Cidadão

Tutor(a): Cristina Rodrigues
Cachorro: Bob
Agressividade
18 jul 2017

Agressividade

“Moro em uma cidade do interior de São Paulo, em uma chácara com minha mãe. Há um ano saímos para almoçar e quando voltamos nossa casa tinha sido assaltada. Passado uns dias ganhei de uma amiga um filhote de Rottweiler. Até agora estava tudo bem, mas de um mês para cá ele está atacando meus cachorros pequenos: tenho três SRDs que adotei da rua. Estou com muito medo de ele matar os pequenos machos, pois com a fêmea não há brigas. Sem contar que agora também estou com receio que ele machuque minha mãe que já é idosa. Por favor, me ajude. Na primeira vez que ele atacou eu gritei ‘Não’ para separar a briga e bati nele com uma mangueira. Agora que está maior ele não respeita mais a mangueira. Estou tentando segurá-lo somente falando ‘Não’. Mas quando solto, ele volta a atacar. Agora quando ataca eu falo o ‘Não’ e o coloco no canil. Estou pensando em castrá-lo. Será que isso ajudaria? Eu amo cachorros. Nunca tive um de raça, só vira latas. Tenho esse porque ganhei, mas não o quero bravo.” – Cristina Rodrigues.

Por Andrei Kimura, adestrador franqueado da Cão Cidadão

Não é incomum as pessoas ganharem, adotarem ou adquirirem um pet pensando em solucionar uma situação e só depois se darem conta de que precisariam ter estudado e se preparado para tanto.

Às vezes, pensando em oferecer companhia aos pets, as pessoas acham que a solução é ter um outro animal de estimação, mas nem sempre este intuito é atingido, pois pode acontecer de os bichinhos não se darem bem e terem ciúmes dos tutores, por exemplo.

Na situação elucidada pela leitora, ainda há um agravante que é o potencial de ofensividade que um cão do porte de um Rotweiller pode representar.

A escolha por parte de quem lhes presenteou com o filhote da raça pode ter sido em função de ser um cão de grande porte e, por isso, pudesse ajudar na proteção da propriedade em virtude do ocorrido.

Como dito, a princípio o filhote não apresentava comportamento agressivo e a medida que foi crescendo houve o aparecimento dos problemas de agressividade com os outros machos. Isso se deve porque a medida que o machinho cresce começam os comportamentos típicos relacionados à produção de testosterona, o hormônio masculinizante que, por sua vez, não só é responsável pelas características físicas do macho, mas também pelo seu comportamento.

Não foi dito se os outros machinhos são castrados mas se todos fossem existiria uma probabilidade menor de ocorrerem conflitos, no entanto, o fato de castrarmos os machos por si só não é garantia de que tudo voltará a ser uma situação segura.

Na situação da Cristina não só a castração é recomendada, mas o acompanhamento de um adestrador hábil deve acontecer pois o mesmo poderá ensinar limite a todos, mostrando o que se pode e o que não se pode fazer e, principalmente, sociabilizá-los entre si.

Não se deve coibir, por exemplo, rosnados, já que estes são um aviso, um comportamento associado ao prenúncio de conflito eminente, se coibirmos o rosnado o cão entenderá que não se pode fazer isso e pode passar a atacar sem rosnar e dificultar o controle da agressividade.

A sociabilização entre cães é feita através de aproximações sucessivas e que associem positivamente a presença de um com o outro. A alimentação é uma forma de associar a presença de uns aos outros de forma positiva, claro, de forma controlada, além disso podemos lançar mão de brincadeiras sobre controle que tragam prazer a ambos (e ao proprietário), por exemplo.

Aconselha-se que os cães só fiquem na presença um do outro sobre controle, para evitar novos conflitos. Cada vez que um conflito acontecer o mesmo estará reforçado a antipatia entre eles, criando mais dificuldade na convivência.

Ainda precisamos analisar a presença da fêmea, que, como foi dito, não é atacada pelo Rotweiller. Claro, tal fato esta associado a mesma não apresentar os níveis de testosterona que um macho não castrado apresenta e, além disso, a mesma pode agravar a situação: se está para entrar no cio os machos passarão a disputá-la, então, assegure-se de que a mesma não vai representar mais um motivo de conflito até a situação estar sob controle.

Finalmente, e com importância capital, devemos nos assegurar que o comportamento agressivo não se transferirá para as pessoas da casa, seja ela quem for, pois um cão de porte grande representa um potencial de ofensividade que pode ter consequências muito graves e até fatais.

Se não houver um controle desse comportamento através do adestramento, as pessoas estarão em risco, especialmente pessoas de idade e crianças, mesmo um adulto saudável pode ser gravemente machucado se as condições forem propícias para tanto. Existe, por exemplo, um fenômeno comportamental chamado “agressividade por transferência”: cães em situação de agressividade podem pegar qualquer coisa que esteja ao seu alcance se não conseguirem chegar àquilo que disparou o comportamento. Vamos supor que o cão queira atingir outro cão e este não esteja ao alcance; um humano que possa querer controlar a situação e que se aproxime do cão, ou dos cães brigando, pode ser mordido apenas porque se aproximou da situação.

Por isso, em casos de agressividade não é recomendado que tente se resolver amadoristicamente. Consulte um profissional!

Cães podem ser excelentes recursos para guardar propriedades, mas os mesmos devem passar por treinamentos específicos.