No começo do ano passado, Divisão de Operações Especiais (DOE) da Polícia Civil do Distrito Federal concedia suporte na realização de mandados de busca e apreensão em Paranoá. Além dos oficiais, a operação contava com a ajuda de cães farejadores.

Depois da invasão policial no local, os cachorros entraram para procurar por narcóticos. Na tentativa de fugir do flagrante, o sujeito despejou o tablete de maconha no vaso sanitário. E, posteriormente, deu a descarga. Todavia, a droga ficou presa na tubulação e não chegou até o esgoto.

Mesmo sem a droga, o pastor belga de malinois Rocky, hoje com 11 anos, sentiu o cheiro e alertou aos policiais. Rocky se mostrou muito inquieto, deu voltas e colocou a cabeça no vaso. “Parecia que ele queria beber água, mas achei estranho porque ele não costuma fazer isso”, contou Sanlac Machado, que acompanhava o cão na operação, em entrevista a Agencia Brasília.

Cães farejadores

Foto: Agencia Brasilia

A partir daí, ele instruiu o agente da delegacia circunscricional a quebrar o vaso. Com cerca de 300 milhões de células olfativas, o cão cumpriu a sua tarefa. Assim, o agente terminou a tarefa e encontrou 200 gramas de maconha.

“Costumamos dizer que o cão vê o mundo pelo faro. Nossa visão [dos humanos] é superior, mas temos apenas cinco milhões de células do olfato”, afirmou Sanlac, chefe da Seção de Cinofilia da DOE.

Importância dos cães farejadores no dia a dia da policia

Então, Rocky foi o primeiro dos cães farejadores da Divisão. Esses animais oferecem apoio a toda Polícia Civil de Brasília. Além disso, ele foi doado pela Polícia Federal quando tinha sete anos de idade. O cão atuou até completar uma década de vida, mas teve um destino um pouco diferente dos seus companheiros.

De maneira geral, os cachorros acabam entregues aos seus condutores quando se aposentam oficialmente. No entanto, Rocky passou a morar no canil da divisão e ajuda em cursos e treinamentos. “Ele é muito especial para nós, me ensinou muito, só vai sair daqui quando morrer”, declarou Sanlac.

Das três divisões que formam a Segurança Pública da capital federal, a Polícia Civil é a que conta com ajuda canina há menos tempo. Afinal, o canil foi inaugurado há menos de 24 meses e se situa no próprio DOE.

No momento, o local abriga 12 cachorros, das raças pastor belga de malinois e pastor alemão. Só que apenas cinco estão atuando diariamente, uma vez que os outros são muito jovens e estão em fase de treinamento.

Nos dias de hoje, só quatro policiais trabalham em parceria com os animais. Em compensação, outros seis policiais civis finalizaram o curso de condutores de cães farejadores em outubro de 2019. Por isso, esses agentes esperam transferência para Divisão de Operações Especiais.

Treinados desde filhotes

Os cachorros policiais, normalmente, nascem do cruzamento de machos da Polícia Civil com fêmeas oriundas da Polícia Federal. Sendo assim, o plantel do DOE possui integrantes de uma mesma família. Tais como: como os pastores alemães X (o avô), Corvo (o filho) e Duque (o neto). Além disso, o precursor do canil, Rocky, tem um filhote que também atua no serviço policia. Charlie tem 2 anos e meio e já está em atividade.

Esses filhotes são treinados para apoiar as delegacias circunscricionais. Eles são selecionados ainda na ninhada. Ou seja, essa avaliação tende a optar pelos animais mais ativos, ousados e persistentes. “A gente joga um cobertor e fica observando o que mais persiste em mordê-lo, os que nunca desistem. Normalmente são os pequenos. Porque eles têm que batalhar mais para mamar, por exemplo”, explicou.

Os animais selecionados passam por um período de treinos a partir dos 35 dias. Esse momento se estende até os quatro meses de vida. No entanto, os filhotes encaram essas atividades como brincadeira e são estimulados a socializar com os demais. Nesta faixa etária, eles aprendem a buscar a bolinha que, adiante, será deixada em caixas com drogas.

Com o trabalho, os cães são instruídos a perceber o cheiro de cada substancia. Até mesmo armas e munições entram nesse processo. Afinal, os humanos praticamente não sentem cheiro desses itens, que podem ser farejados pelos cachorros.

Foto: Agencia Brasilia

Com 18 meses, o animal está apto a iniciar o trabalho. Nas operações policiais, ele é recompensado com uma bolinha quando encontra a droga ou arma. Essa técnica faz com que tudo seja uma brincadeira para bichinho.

“O importante é ele gostar de encontrar a bolinha. Porque ele busca a bolinha e não a droga e sabe que, quando ganha a bolinha, o trabalho está finalizado”, explicou Sanlac.

Eficiência comprovada

O diretor da DOE, Edson Medina, reconheceu a eficiência dos cães na rotina do trabalho policial. “Nosso time tático entra na casa primeiro, os policiais detêm os suspeitos, se asseguram de que não há mais perigo e os cães farejadores fazem as buscas no local”, salientou.

Depois que os cachorros encontram o item em questão, a responsabilidade de apanhar passa aos policiais envolvidos. Por isso, a equipe não sabe precificar a quantidade de drogas ou munição encontrada com auxílio dos cães farejadores.

Segundo o delegado, porém, os cachorros facilitaram muito o cumprimento dos mandados de busca e apreensão. “Muitos moradores têm mania de entulhar coisas em casa e escondem drogas no meio do lixo. Às vezes, para a gente encontrar alguma coisa, tínhamos que quase desmontar a casa do suspeito. O canil deu certo, os cães são ferramentas fundamentais para a investigação. Ele [o cão] só não acha a droga se não tiver”, salientou.

Os relatos daqueles que atuam no canil mostram a eficiência relatada pelos oficiais. Em abril do ano passado, a polícia cumpriu mandado em uma residência no Paranoá. Os investigadores sabiam que se tratava da casa de um traficante. Mas, a busca revelou uma pequena quantidade de drogas.

Assim, um dos cães farejadores, Corvo chegou ao local e achou meio quilo de cocaína escondida no meio de cadeiras e mesas empilhadas no quintal. Também em 2019, o filho dele, Duque, achou três tabletes de maconha escondidos no quarto de um bebê no Recanto das Emas. Essa foi a primeira missão de Duque com a policia. Um dos tabletes estava dentro de um pufe de criança, que foi rasgado pelos oficiais.

“Quem ia rasgar o pufe de um bebê sem saber que tinha droga dentro dele?”, concluiu o chefe da Seção de Cinofilia da DOE.