Existem muitas controvérsias à respeito da domesticação do cachorro. Entretanto, um novo estudo revelou que a domesticação teria ocorrido em regiões opostas da Eurásia. Ou seja em regiões distantes entre a Europa e a Ásia.

Pesquisadores de universidades americanas, alemãs e irlandesas, bem como do CNRS francês, participaram de um vasto estudo sobre a origem do cachorro. Foi publicado em 18 de julho na revista Nature.

Que o cão descende do lobo, não é uma novidade e é um fato incontestável, já que as duas espécies de caninos têm em comum 99% do DNA . O que este estudo revela, por outro lado, é que a partir dessa mesma população inicial de lobos, dois grupos teriam se separado para formar lares na Ásia, e na Europa e na África, de outro lado.

Universidade de Oxford concluiu que os cães surgiram de duas populações de lobos independentes

domesticação do cachorro

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Uma equipe internacional de pesquisadores liderada pela Universidade de Oxford realizou a comparação das informações genéticas com os achados arqueológicos. Dessa forma concluíram que os cães teriam surgido a partir de duas populações de lobos independentes. Além disso vale ressaltar que os lobos em questão são ancestrais dos lobos conhecidos atualmente. Sendo assim, são animais já extintos.

Portanto, como consequência disso é possível concluir que duas populações diferentes de homens, vivendo em lados opostos da Eurásia domesticaram os lobos. Ou seja, ambas as populações concluíram que a inteligência desses animais poderia fazer deles ótimos companheiros. Além disso eles poderiam assim ser utilizados também para o trabalho.

Estudo da Revista Science afirma que a domesticação do cachorro ocorreu na Europa e Ásia

lobo

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Apesar da certeza sobre a origem do cão a partir de lobos antigos, não se tem certeza sobre a localização da domesticação do cachorro. Então ela poderia ter ocorrido tanto na Europa quanto na Ásia. Entretanto um novo estudo publicado na revista Science traz informações de que o evento teria ocorrido nos dois continentes simultaneamente.

Anteriormente, já havia estudos que falavam na ocorrência de uma única domesticação. Além disso, para dificultar a interpretação dos fatos por parte da comunidade científica, existem evidências arqueológicas conflitantes que mostram que há milhares de anos os primeiros cães viviam em lados opostos da Eurásia. Sendo assim o estudo atual demonstra que a domesticação do cachorro haveria ocorrido em ao menos duas ocasiões diferentes, em locais distintos.

Peça fundamental sobre a domesticação do cachorro

domesticação do cachorro

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Uma importante pista sobre a origem do cão veio da Irlanda. Assim, foi encontrado e colhido o DNA de um cachorro de médio porte que teria vivido lá 4800 anos antes.

De acordo com Dan Bradley, autor do estudo, o osso do cachorro de Newgrange guardava o DNA antigo mais bem preservado que já foi encontrado por sua equipe. Sendo assim forneceu à eles um genoma antigo raro e de ótima qualidade.

Bradley, sua equipe e especialistas do Museu Nacional de História Nacional de Paris fez também a análise do DNA mitocondrial de 59 cães. Seus restos mortais datavam de 3.000 a 14.000 anos atrás. Então os dados foram comparados com o genoma de mais de 2.500 cachorros dos dias atuais.

Entretanto, tentar compreender dados do passado utilizando dados de DNA atuais pode ser bastante difícil. Isso porque não é possível saber se algumas informações foram perdidas ao longo da história. Por outro lado, a partir do DNA antigo é possível que se observe o passado de maneira direta.

Qual o motivo da dificuldade na identificação do DNA dos cães atuais pelos cientistas?

origem do cachorro

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Sendo assim, os dados obtidos demonstram a ocorrência de uma grande divisão genética dos cães entre as duas localidades. Além disso, alguns dados sugerem que teria ocorrido algum evento dramático na Europa. Assim os cães do local teriam sido substituídos. Então, os dados sugerem que teria ocorrido um fluxo de cães de outros locais. Ou seja, eles teriam vindo da Ásia Oriental.

Ademais a pesquisa sugere que a origem do cachorro moderno teria ocorrido tanto no leste quanto no oeste da Eurásia há mais de 12.000 anos. Entretanto, na Ásia Central os antepassados do cachorro moderno não teriam aparecido antes de 8.000 anos atrás. Então, teriam surgido entre as duas datas.

Sendo assim, é provável que duas populações de lobos tenham sido domesticadas de maneira independente no leste e oeste da Eurásia. Mas após a ocorrência dessa domesticação dupla ocorrida há aproximadamente 6400 anos, os animais do Oriente teriam ido para a Europa.

origem do cachorro

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Então isso teria acontecido por meio das imigrações das populações humanas. Assim, os dois grupos de cães se misturaram. Por fim os cães europeus que eram mais antigos foram sendo substituídos ao longo do tempo.

Portanto, nos dias atuais todos os cães que conhecemos são híbridos entre cães ocidentais e orientais. Sendo assim, essa é a explicação do motivo da dificuldade na identificação do DNA dos cães atuais pelos cientistas. Além disso, os pesquisadores afirmam que alguns cães como o husky têm uma mistura genética das populações tanto do leste quanto do oeste da Eurásia.

As informações genéticas antigas e modernas poderão determinar a domesticação do cachorro

origem do cachorro

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Dessa forma, essa pesquisa foi capaz de esclarecer muitas dúvidas. Entretanto, ainda existem muitas coisas que devem ser avaliadas.

Então, no futuro os cientistas pretendem fazer a combinação de informações genéticas antigas e modernas. Dessa forma será possível estabelecer melhor a linha do tempo dos acontecimentos. Assim será possível determinar também a localização exata de onde se deu a origem do cachorro.

Além disso, eles pretendem também comparar os dados referentes aos cães antigos com uma sub-espécie de lobo que descende dos cães do leste da Ásia. Sendo assim, se essa sub-espécie não apresentar semelhanças com o DNA europeu, isso seria mais um reforço para a teoria da origem dupla.

Como começou a formação das raças

formação das raças

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Após a domesticação do cão, a espécie passou pelo processo de formação de raças. Mas isso ocorreu de acordo com a vontade do ser humano, que foi realizando sucessivas seleções das características desses animais. Dessa forma, as características que agradavam ao homem foram sendo aprimoradas.

Entretanto, esse processo de seleção forçada levou os cães a desenvolverem mutações genéticas prejudiciais à eles. E vale ressaltar que essas mudanças poderiam ter sido evitadas.

Então, pode-se afirmar que o homem teve influência direta no processo de evolução dos cães. Por isso as mutações presentes em algumas raças foram comparadas por meio de análises genéticas.

A seleção artificial efetuada pelo homem trouxe prejuízos aos cães

husky

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A equipe de Lohmuller analisou variações genéticas presentes no DNA de 19 lobos cinzentos, 25 cães sem raça definida e 46 cães de raças diversas. Através dessas análises eles faziam buscas por segmentos de DNA que fossem potencialmente prejudiciais aos animais. Então, isso seria um indício de que a evolução da espécie teria resultado no surgimento de alguns aminoácidos. Por outro lado esses seriam responsáveis por falhas orgânicas no animal. Além disso algumas dessas alterações seriam responsáveis até mesmo pela redução da capacidade reprodutiva da espécie em questão.

Os cães estudados possuíam em média 115 alelos danosos a mais em comparação com os lobos. Ou seja a seleção artificial efetuada pelo homem trouxe muitos prejuízos aos cães. Por outro lado, os lobos passaram pelo processo de seleção natural, livre da influência humana.

Por fim, de acordo com a pesquisa, essas mutações prejudiciais devem ser monitoradas nos cães. Porque a seleção de características desejadas pelo homem pode acarretar em prejuízos ao animal. Além disso, a previsão do futuro das espécies de cães é difícil de ser feita. Mas os efeitos encontrados atualmente podem piorar com o passar do tempo.

Quanto maior a variabilidade genética, maior a chance de conservar a espécie

cão lobo

O pesquisador Milton Moraes especialista em Genética e Doenças Infecciosas da Fiocruz afirma que quando há redução de uma população, ocorre cruzamento entre cães que apresentam características semelhantes. Dessa forma ocorre a concentração de alguns alelos. Mas isso pode não ser ruim pois dessa forma a população pode se tornar mais resistente. Entretanto é possível também que ocorra aumento de alelos que trazem prejuízos à população. Assim características indesejadas poderiam ser favorecidas. Mas as mutações prejudiciais seriam eliminadas se a seleção ocorresse de forma natural. Ou seja, os animais seriam mais saudáveis sem a influência do ser humano.

Por fim, o pesquisador afirma que quanto maior for a variabilidade genética, maiores são as chances de se conservar a espécie. Então, se o DNA for muito parecido em toda a população, existe maior probabilidade de que ela seja extinta.

Então conclui-se a partir da análise dos estudos, que apesar das descobertas acerca da domesticação do cachorro, ainda há muito à ser estudado!

Referências:

Scientificamerican

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