O Brasil apresenta um contraste preocupante: somos um país com aproximadamente 60 milhões de cães, mas apenas 200 cães-guia ativos para atender cerca de 7 milhões de deficientes visuais. Esse dado foi divulgado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
A realidade dos cães-guia no Brasil: números alarmantes
A proporção de um cão-guia para cada 35.000 deficientes visuais evidencia uma grave lacuna de acessibilidade no Brasil. Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, esse número é significativamente menor, com centenas de cães-guia formados anualmente. Essa disparidade reflete diretamente na qualidade de vida e autonomia das pessoas com deficiência visual no país.

O contraste é ainda mais impactante quando comparado ao número total de cães no Brasil. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), somos o segundo país com maior população de cães domésticos no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
O papel fundamental dos cães-guia na vida dos deficientes visuais
Os cães-guia vão muito além de simples animais de companhia. Treinados especificamente para auxiliar pessoas com deficiência visual, eles proporcionam autonomia, segurança e maior inclusão social. Um cão-guia bem treinado é capaz de desviar de obstáculos, identificar desníveis, parar em faixas de pedestres e até mesmo desobedecer a um comando que possa colocar seu tutor em risco.

Além da mobilidade, esses animais oferecem benefícios emocionais importantes. A presença do cão-guia diminui o isolamento social, aumenta a autoconfiança e melhora a saúde mental de seus tutores, criando uma parceria única
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Por que tão poucos cães-guia?
O treinamento completo dura cerca de dois anos e pode custar entre R$ 30.000 e R$ 60.000 por animal. Esse valor inclui desde a seleção criteriosa dos filhotes até o treinamento especializado e a adaptação com o tutor.
O Brasil conta com poucas escolas de formação, o que limita o número de cães treinados anualmente. Entre os principais centros, destacam-se a Escola de Cães-Guia Helen Keller, em Balneário Camboriú (SC), e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Camboriú, que oferecem o serviço gratuitamente para pessoas com deficiência visual.
O processo de seleção e treinamento
Nem todos os cães têm perfil para se tornarem cães-guia. A seleção é rigorosa e considera aspectos como temperamento, saúde, resistência física e capacidade de aprendizagem. Apenas 40% dos cães que iniciam o treinamento concluem o processo com sucesso, o que explica parcialmente a escassez desses animais.
As raças mais indicadas para cães-guia e suas características
O Labrador Retriever lidera as preferências mundiais, seguido pelo Golden Retriever e pelo Pastor Alemão.
As características valorizadas incluem:
- Inteligência e capacidade de aprendizado
- Temperamento equilibrado e previsível
- Tamanho e força adequados para auxiliar na mobilidade
- Baixa agressividade e sociabilidade elevada
- Boa saúde e resistência física
Direitos garantidos por lei: a proteção dos cães de assistência
A Lei Brasileira de Inclusão garante o direito de acesso de cães-guia a qualquer ambiente público ou privado de uso coletivo. Isso inclui transportes públicos, estabelecimentos comerciais, restaurantes, hospitais e escolas. Barrar a entrada de um cão-guia constitui crime de discriminação.
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No transporte aéreo, as companhias são obrigadas a acomodar o cão-guia junto ao seu tutor na cabine de passageiros, sem custo adicional. A legislação também isenta os tutores de pagamento de taxas extras em hotéis ou outros estabelecimentos pela presença do animal.
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Como contribuir para aumentar o número de cães-guia no Brasil
Existem diversas formas de contribuir para melhorar esse cenário. Doações para instituições especializadas no treinamento de cães-guia são sempre bem-vindas. Algumas escolas também buscam voluntários para a socialização de filhotes, fase crucial do desenvolvimento desses animais.
Empresas podem estabelecer parcerias com centros de treinamento, patrocinando a formação de cães ou oferecendo suporte logístico. A divulgação de informações sobre o tema também contribui para conscientizar a sociedade sobre a importância desses animais e os desafios enfrentados por pessoas com deficiência visual.
A ampliação de políticas públicas específicas para o setor, com investimento em centros de treinamento e subsídios para a formação de cães-guia, seria um passo fundamental para transformar essa realidade no Brasil