Você já ouviu aqueles comentários sobre cachorros machos serem mais bagunceiros ou fêmeas mais independentes? Por muito tempo, essas afirmações foram baseadas apenas em percepções pessoais, sem fundamentação científica. Agora, um dos maiores estudos sobre comportamento canino traz dados concretos sobre o tema, revelando quatro diferenças comportamentais significativas entre cães machos e fêmeas.
O Dog Aging Project
Realizada pelo Dog Aging Project (DAP), a pesquisa analisou dados de aproximadamente 50.000 tutores que preencheram um questionário detalhado sobre o comportamento de seus cães. O estudo utilizou o Canine Behavioral Assessment and Research Questionnaire, uma ferramenta de avaliação amplamente reconhecida que pede aos tutores que classifiquem diferentes aspectos do comportamento de seus cães em uma escala de cinco pontos.

Os pesquisadores classificaram as respostas em quatro categorias comportamentais principais: medo, atenção/excitabilidade, agressividade e treinabilidade. Os resultados revelaram padrões consistentes de diferenças entre machos e fêmeas em todas essas categorias.
As 4 diferenças comportamentais entre machos e fêmeas
1. Nível de medo: machos são menos medrosos
O estudo descobriu que, em média, cães machos apresentam menos comportamentos relacionados ao medo do que as fêmeas. Os machos pontuaram 0,106 pontos menos nas questões relacionadas ao medo, uma diferença estatisticamente significativa. Isso sugere que os machos tendem a demonstrar menos ansiedade em situações novas ou potencialmente ameaçadoras.
Como o estudo se baseia em relatos dos tutores, permanece a questão: seria esta diferença resultado de coragem genuína ou simples imprudência por parte dos machos? A pesquisa não responde definitivamente, mas oferece um dado consistente sobre essa tendência comportamental.
2. Agressividade: machos apresentam mais comportamentos agressivos
Em termos de agressividade, os cães machos pontuaram em média 0,051 pontos a mais que as fêmeas. Embora a diferença seja menor que na categoria medo, ela indica uma tendência dos machos a demonstrarem mais comportamentos agressivos direcionados a outros cães, estranhos e até mesmo aos próprios tutores.
Essa diferença pode estar relacionada a fatores hormonais, especialmente os níveis de testosterona nos machos não castrados, que podem influenciar comportamentos territoriais e de dominância. Vale ressaltar que essa é uma tendência estatística e não significa que todo macho será necessariamente mais agressivo que qualquer fêmea.
3. Treinabilidade: fêmeas levam vantagem
Quando se trata de aprendizado e resposta ao treinamento, as fêmeas saíram na frente. Elas pontuaram 0,106 pontos a mais em treinabilidade, sugerindo que tendem a aprender comandos mais facilmente e responder melhor ao treinamento de obediência.
Essa característica pode estar relacionada a uma maior capacidade de concentração e foco das fêmeas, tornando-as potencialmente mais adequadas para tarefas que exigem obediência precisa e aprendizado consistente. Para tutores iniciantes ou famílias que buscam um cão mais facilmente treinável, este dado pode ser relevante na escolha entre um macho ou uma fêmea.
4. Busca por atenção: machos são mais dependentes
A diferença mais marcante entre os gêneros foi encontrada na categoria de comportamentos de busca por atenção. Esta categoria inclui perseguir objetos, nível de apego ao tutor e comportamentos relacionados à separação. As fêmeas pontuaram 0,135 pontos menos que os machos, indicando que tendem a ser mais independentes e necessitam de menos atenção constante.
Isso sugere que cães machos podem desenvolver mais facilmente ansiedade de separação e comportamentos que demandam interação frequente com seus tutores. Para pessoas com rotinas muito ocupadas, esse dado pode ser importante na decisão entre adotar um macho ou uma fêmea.
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Fatores biológicos e ambientais nas diferenças comportamentais
É fundamental entender que nem todas as diferenças comportamentais entre cães machos e fêmeas são puramente biológicas. Yuhuan Li, autor principal do estudo, destaca que as percepções dos tutores também podem influenciar nos resultados, já que os dados se baseiam em relatos e não em observações científicas diretas.
Além disso, a forma como os cães são criados tem enorme impacto em seu comportamento. Por exemplo, a tendência de os tutores lidarem com cães pequenos de maneira diferente (carregando-os em vez de treiná-los para se comportarem adequadamente) pode afetar os resultados relacionados ao tamanho, independentemente do sexo do animal.
A castração também é um fator importante que pode alterar significativamente o comportamento, reduzindo principalmente comportamentos relacionados a hormônios em ambos os sexos.
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Outras descobertas interessantes do estudo
Além das diferenças entre machos e fêmeas, o estudo revelou outras informações valiosas sobre comportamento canino baseadas em diferentes fatores:
- Tamanho e agressividade: Cães de pequeno porte foram classificados como mais agressivos que cães grandes e menos treináveis.
- Raças mistas: Cães sem raça definida apresentaram maior tendência a comportamentos de busca por atenção.
- Cães de serviço: Como esperado, cães de serviço demonstraram ser menos agressivos e mais treináveis.
- Diferenças regionais: Curiosamente, cães da região Nordeste dos EUA foram classificados como menos agressivos que cães do Meio-Oeste. Já os cães do Meio-Oeste foram considerados mais treináveis.
Como usar essas informações na escolha do seu cão
Ao considerar adotar um cão, é tentador basear sua escolha apenas em tendências estatísticas. No entanto, os pesquisadores alertam que essas diferenças representam médias populacionais e não determinam o comportamento individual de cada cão.
Se você está decidindo entre um cachorro macho ou fêmea, considere:
- Seu estilo de vida e disponibilidade para oferecer atenção (machos podem demandar mais interação)
- Sua experiência com treinamento de cães (fêmeas tendem a ser mais receptivas ao treinamento)
- A presença de outros animais em casa (considerando as tendências de agressividade)
- Seus planos quanto à castração ou esterilização (que pode mitigar muitas das diferenças comportamentais)
Para além das estatísticas: cada cão é único
Embora este estudo ofereça informações valiosas sobre tendências comportamentais, é essencial lembrar que cada cão é um indivíduo único. Existem fêmeas corajosas, machos independentes, fêmeas difíceis de treinar e machos extremamente dóceis.
O ambiente, a socialização, o treinamento e o vínculo com o tutor frequentemente têm impacto maior no comportamento do que o sexo do animal. O mais importante na escolha de um companheiro canino é encontrar um cão cujo temperamento e necessidades sejam compatíveis com seu estilo de vida e expectativas.
Conhecer essas tendências pode ajudar na preparação para possíveis desafios, mas nunca deve ser o único fator na decisão de adotar um cachorro macho ou fêmea. Afinal, a personalidade individual de cada cão e o vínculo que você desenvolve com ele superam qualquer estatística ou generalização.
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