É incrível como através das criações artísticas podemos observar tão bem o zeitgeist específico daquela sociedade.

Em um sketch feito em 1904 pela companhia Edison Manufacturing Co., do mesmo Thomas Edison que foi responsável pela lâmpada elétrica incandescente, conhecemos a “Patent Dog Transformator” (Desenvolvedor de cães patenteado, tradução livre), máquina que tem o poder de tanto transformar os cães em linguiças quanto utilizar as linguiças para criar cães de acordo com o gosto do cliente.

Na parede, as linguiças estão divididas em raças e comportamentos e, a partir desses ingredientes, os consumidores podem desenvolver cães “perfeitos”.

Nas várias situações apresentados no vídeo, este naturalmente em preto e branco e mudo por causa da época de produção, podemos ver um rapaz que pede um cachorro treinado, e sai satisfeito da fábrica quando o cachorro dá um salto. Ou a mulher que pede um filhotinho, e após escolher dentre os que foram formados pela máquina, sai carregando o seu novo pet e os outros restantes são novamente transformados em linguiça.

Esse segmento sem dúvida enfrentaria uma série de críticas por sua natureza sombria. Só a ideia de transformar um cachorro em linguiça, para tantas nações de apaixonados por cães, causa no mínimo estranheza e repulsa.

O que nos deixou intrigados foi o conceito de criar seu próprio cão, como um objeto, e mesmo passado dessa maneira extrema do vídeo, é tão real ainda na nossa época, mais de 100 anos depois.

As “raças design”, tão desejadas pelo público e desenvolvidas por criadores irresponsáveis e puppy mills, faz a mesmíssima coisa que a Fábrica de Cachorros de Thomas Edison. E os que não são bons o suficiente, viram “linguiça”, ou são abandonados.

O sketch por si, é raso e tem aquele elemento do humor negro e exagerado comum a essa época, porém, quando pegamos esse vídeo o comparamos com um problema tão sério como a criação de cães cada vez menores e com características físicas extremas apenas pelo visual, ele ganha um significado penentrante e difícil de engolir.