Você sabe o que é torção gástrica em cães? Venha entender tudo sobre a DVG e por que ela é tão perigosa

A torção gástrica em cães, também conhecida como síndrome da dilatação vólvulo-gástrica (DVG), representa uma das emergências mais graves na medicina veterinária. A condição pode evoluir rapidamente e, sem intervenção imediata, apresenta altas taxas de mortalidade. Reconhecer os primeiros sinais desta condição pode fazer a diferença entre a vida e a morte do seu pet.

Vamos entender o que acontece durante uma torção gástrica, quais cães correm maior risco e como podemos prevenir esse problema potencialmente fatal.

O que é torção gástrica em cães?

A torção gástrica ocorre quando o estômago do cão dilata excessivamente e gira sobre seu próprio eixo. Esse processo geralmente começa após a ingestão de grandes quantidades de alimento, especialmente quando seguida por períodos de jejum prolongado, aerofagia (engolir ar) ou alterações na motilidade gástrica.

Durante esse processo, ocorre acúmulo significativo de conteúdo no estômago, que pode ser líquido, gasoso ou sólido, resultando em dilatação severa. A rotação do estômago geralmente acontece em sentido horário, com desvio entre 270° e 360° em casos graves. Quando a rotação é inferior a 180 graus, caracteriza-se como torção gástrica simples; quando superior, configura-se o quadro completo conhecido como vólvulo gástrico.

 

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estômago distendido girando no próprio eixo. Foto – Weasy

Essa rotação anormal provoca compressão sobre o duodeno e o piloro (porções da anatomia do estômago), impedindo o esvaziamento normal do conteúdo gástrico. O processo rapidamente se agrava quando o estômago dilatado pressiona grandes vasos sanguíneos como a veia porta e a veia cava, comprometendo a circulação e potencialmente levando ao choque hipovolêmico.

Raças predispostas à torção gástrica

As raças com maior risco incluem:

  • Dogue Alemão (considerada a raça com maior incidência)
  • Pastor Alemão
  • São Bernardo
  • Doberman
  • Setter Irlandês
  • Weimaraner
  • Akita
  • Rottweiler
  • Golden Retriever e Labrador
  • Poodle Standard/Gigante
  • Chow Chow
  • Boxer
  • Cães sem raça definida de grande porte

Por que cães de grande porte são mais suscetíveis?

A predisposição de raças grandes e gigantes está diretamente relacionada à sua conformação anatômica. O tórax profundo e estreito desses animais cria mais espaço para o estômago se mover dentro da cavidade abdominal. Além disso, em cães maiores, os ligamentos que prendem o estômago (ligamentos hepatoduodenal e hepatogástrico) podem se tornar mais frouxos com o tempo, permitindo maior mobilidade do órgão.

 

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Pastor alemão em jardim. Foto – Freepik

O peso do alimento em um estômago grande também contribui para o problema, especialmente quando o cão realiza atividades físicas logo após se alimentar, facilitando a rotação do órgão sobre seu eixo.

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Principais causas e fatores de risco

Fatores relacionados à alimentação

O manejo alimentar inadequado representa um dos principais fatores de risco para a torção gástrica. Situações que favorecem o desenvolvimento dessa condição incluem:

Oferecer apenas uma refeição diária aumenta significativamente o risco, pois o cão tende a comer rapidamente grandes volumes. Alimentar o animal em comedouros elevados, prática antes recomendada para algumas raças, hoje é considerada controversa, com estudos indicando que pode aumentar o risco de torção gástrica.

Rações secas com alto teor de gorduras e óleos também são fatores predisponentes, assim como alimentos que fermentam facilmente e produzem gás no estômago. A ingestão de grandes volumes de água imediatamente após a alimentação também pode contribuir para o problema.

Fatores comportamentais e ambientai

Cães ansiosos, estressados ou com temperamento nervoso apresentam maior predisposição. Situações que geram estresse agudo, como viagens de carro, mudanças de ambiente, introdução de novos animais na casa ou visitas ao veterinário, podem desencadear episódios em animais predispostos.

Exercícios físicos intensos realizados logo após as refeições representam um fator de risco particularmente importante. A atividade física aumenta a aerofagia (ingestão de ar) e pode facilitar a movimentação do estômago dentro da cavidade abdominal.

Sinais clínicos e como identificar uma emergência

Os sintomas geralmente se desenvolvem de forma aguda e progressiva, podendo evoluir para um quadro crítico em poucas horas.

Os sinais mais comuns incluem:

  • Tentativas improdutivas de vômito (ânsia sem eliminação de conteúdo)
  • Distensão abdominal visível e progressiva
  • Abdômen rígido e doloroso à palpação
  • Inquietação, agitação e desconforto evidentes
  • Postura arqueada ou de “prece muçulmana”
  • Salivação excessiva (sialorréia)
  • Respiração rápida e superficial (taquipneia)
  • Batimentos cardíacos acelerados (taquicardia)
  • Fraqueza progressiva
  • Gengivas pálidas ou arroxeadas
  • Colapso e estado de choque

Considere TODOS esses sinais como uma emergência veterinária. Quanto mais rápido o animal for levado ao atendimento, maiores são suas chances de sobrevivência. A demora no diagnóstico e tratamento é um dos principais fatores que contribuem para o alto índice de mortalidade associado à torção gástrica.

Diagnóstico veterinário

O diagnóstico definitivo da torção gástrica combina avaliação clínica e exames complementares. O médico veterinário realizará um exame físico detalhado, verificando os sinais vitais e a condição abdominal do animal.

O exame radiográfico é fundamental para confirmar o diagnóstico. São necessárias pelo menos duas projeções (látero-lateral e ventrodorsal) para visualizar adequadamente a posição do estômago. 

Exames laboratoriais como hemograma, perfil bioquímico e parâmetros de coagulação não diagnosticam diretamente a torção, mas são essenciais para avaliar o estado geral do paciente e planejar o tratamento. 

Em situações onde há dúvidas, uma ultrassonografia abdominal pode complementar a investigação, ajudando a avaliar a viabilidade dos tecidos e a presença de complicações.

Tratamento da torção gástrica

O tratamento da torção gástrica sempre representa uma urgência e requer intervenção imediata. A abordagem terapêutica envolve duas fases principais: estabilização inicial do paciente e correção cirúrgica.

Procedimentos de emergência

No tratamento da torção gástrica em cães, o primeiro passo é garantir um bom acesso à veia para aplicar soro em grande quantidade, o que ajuda a estabilizar o animal, melhorar a circulação do sangue e evitar choque. Em alguns casos, pode ser usado um tipo de soro mais concentrado, que age mais rápido para aumentar o volume de sangue circulante.

Outro ponto essencial é retirar o excesso de ar do estômago. Isso pode ser feito introduzindo uma sonda pela boca até o estômago ou, em situações específicas, inserindo uma agulha diretamente na barriga para aliviar a pressão. Esse esvaziamento precisa ser feito aos poucos, para não causar novas complicações.

O tratamento também costuma incluir medicamentos para reduzir inflamações graves, antibióticos para evitar infecções, e remédios que controlam arritmias no coração, caso elas apareçam

Tratamento cirúrgico

Depois que o animal é estabilizado, o tratamento definitivo da torção gástrica é a cirurgia. Nela, o veterinário abre a barriga do cão para colocar o estômago de volta no lugar certo e verificar se ele, o baço ou outros órgãos foram danificados.

Se alguma parte do estômago ou do baço estiver “morta” (sem circulação), pode ser necessário remover essa região. Em alguns casos, o baço precisa ser retirado por completo.

Para evitar que o problema aconteça novamente, o veterinário faz um procedimento chamado gastropexia, que consiste em fixar o estômago na parede do abdômen, impedindo novas torções.

O pós-operatório exige cuidados intensivos: monitoramento constante do coração, controle da dor, uso de antibióticos e retorno gradual da alimentação até que o animal esteja recuperado.

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Como prevenir a torção gástrica em cães

A prevenção é o aspecto mais importante no manejo da torção gástrica, especialmente em raças predispostas. 

Manejo alimentar adequado

Divida a alimentação diária em pelo menos 2-3 refeições menores, evitando oferecer grandes volumes de uma só vez. Estabeleça horários regulares para as refeições, criando uma rotina para o seu pet.

Evite alimentar seu cão imediatamente antes ou após exercícios físicos intensos, aguarde pelo menos uma hora antes e duas horas depois da atividade física. Não permita que o animal beba grandes quantidades de água de uma vez, especialmente após se alimentar.

A altura do comedouro deve ser adaptada às necessidades individuais do animal, após avaliação veterinária. 

Acessórios que auxiliam na prevenção

Diversos produtos podem ajudar a reduzir o risco de torção gástrica:

Comedouros anti-voracidade (slow feeders) são altamente recomendados para cães que comem rapidamente. Estes possuem obstáculos que obrigam o animal a comer mais devagar, reduzindo a ingestão de ar.

Tapetes de alimentação e brinquedos recheáveis também podem ser usados para distribuir a refeição, tornando a alimentação mais lenta e estimulante.

Controle situações de estresse sempre que possível e mantenha seu cão em peso ideal, pois a obesidade pode aumentar o risco de problemas gastrointestinais em geral.

A torção gástrica é uma condição grave que exige conhecimento e atenção por parte dos tutores. Reconhecer os sinais precocemente e buscar atendimento veterinário imediato pode fazer toda a diferença no prognóstico. Para cães de raças predispostas, as medidas preventivas devem fazer parte da rotina diária de cuidados, garantindo uma vida mais segura e saudável para seu companheiro de quatro patas.

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