Lidar com a perda do cachorro não é uma tarefa simples, porém, tampouco impossível. É preciso, antes de qualquer coisa, aprender a respeitar os próprios sentimentos para ultrapassar este momento difícil e, mais tarde, conviver com as boas lembranças do pet.
Mas como sabemos que nada se resume em “superar e pronto”, fizemos este conteúdo com alguns apontamentos que poderão lhe ajudar neste momento difícil. Acompanhe para entender.
Não menospreze a sua dor na hora de lidar com a perda do cachorro
É preciso que você compreenda que a dor da perda (independentemente do motivo) irá impactar a nossa vida, o nosso dia-a-dia e nossos comportamentos. Quando temos apego sentimental a algo, a tendência é que o “corte” doa de um modo semelhante a um golpe físico.
No Livro da Dor e do Amor, o psicanalista Nasio retrata isso claramente. Ele diz que a ruptura de algum “relacionamento amoroso” se assemelha à mais violenta agressão física. Por isso sentimos até mesmo sensações físicas, como insônia, dor de cabeça, cansaço e tensões musculares.
Precisamos compreender que perder algo nunca é fácil, e que os sentimentos jamais devem ser negligenciados. São as lágrimas e as palavras de desabafo que colocarão para fora a nossa frustração de perder algo que amamos, fazendo com que a dor “se gaste” e assim possamos, pouco a pouco, reestabelecer o equilíbrio inicial.
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Por isso, um primeiro passo muito importante: Não menospreze e não reprima os seus sentimentos. Permita-se chorar e viver o seu luto, sem se apressar e sem se crucificar por isso. Ignore comentários do tipo “logo você encontra outro cachorro”, pois assim como acontece quando perdemos uma pessoa, não há substituto que cure a saudade.
Não se cobre e permita a sua recuperação
Seguindo o que apresentamos no tópico acima, lembre-se de que você precisará de um tempo para passar pelas fases do luto. Isto é, não será da noite para o dia que você se sentirá motivado e pronto para a sua rotina corriqueira.
Lidar com a falta de algo ou de alguém não é fácil, requer paciência e muito respeito pelo próprio tempo. Por isso, não se cobre tanto e permita que os seus sentimentos sejam reorganizados até você se sentir pronto novamente.
Você não precisa ser produtivo em menos de uma semana. Embora a sociedade ainda não leve tão a sério o luto ao perder um cachorro, você precisa levar. Não se atente para comentários maliciosos e observe o quanto, a cada dia, você vai ressignificando o que aconteceu e encontrando novas formas de lidar com a saudade.
Dê tempo ao tempo. Permita os seus choros e crises e volte para a rotina de maneira gradual. Tudo isso ajuda você a passar pelo luto e seguir com a sua vida.
Experimente doar alguns pertences do pet para lidar com a perda do cachorro
Depois que você volta do veterinário e seu pequeno amigo se foi, é claro que visualizar as vasilhas, a caminha e o tapetinho será uma verdadeira tortura. Porém, você precisará enfrentar todas as lembranças da forma mais equilibrada que conseguir, tudo isso sem forçar a barra, obviamente.
Portanto, uma medida que poderá lhe ajudar a lidar com o momento delicado é justamente doar alguns pertences do seu pet. Mais tarde, quando você se sentir pronto para um novo cachorro, poderá adotar outro, mas por ora, livre-se dessas lembranças tão intensas ou deixe-as mais longe do seu campo de visão.
É importante frisarmos que isso não significa se esquecer do que o outro cachorro representava, mas sim, permitir que pouco a pouco a dor vá embora e permaneça somente as lembranças que façam sentido: um brinquedo favorito, uma foto, etc.
Entenda que não existe um culpado
Muitas vezes, para lidar com a perda do cachorro, os tutores procuram encontrar culpados para o que aconteceu. Culpam o veterinário, outro tutor que “descuidou”, enfim. Porém, esse tipo de prática não é nada interessante e pode, inclusive, atrapalhar o processo de luto.
Depois que o falecimento aconteceu, ficar buscando mil e uma justificativas poderá apenas retardar o processo de recuperação. Vale ressaltar que sim, dentre uma das fazes do luto, a tentativa de compreender o que realmente aconteceu aparece, no entanto, “apontar o dedo” para o outro apenas aumentará os níveis de tristeza e mágoa, e jamais comprovará, com precisão, quem foi o verdadeiro responsável.
Até porque, convenhamos, uma morte é resultado de inúmeras contingências e fatores, e jamais poderá ser reduzida a causa e efeito.
Não tente usar a substituição como meio de lidar com a perda do cachorro
Um erro muito perigoso que diversas famílias cometem ao tentar lidar com a perda do cachorro é justamente adotar outro cão logo em seguida. Não que a adoção seja errada, mas ela poderá simplesmente mascarar o sentimento de perda. Com isso, há a repressão de sentimentos, que podem provocar efeitos no longo prazo, como por exemplo:
- Problemas psicológicos em outros âmbitos da vida, por não permitir que a dor venha à tona;
- Frustração, ao perceber que cada pet é diferente e que o novo não substitui o outro, de fato;
- Problemas para o cão, que poderá sofrer desprezo, desatenção ou pode ainda ser “mimado demais”, prejudicando assim o seu desenvolvimento saudável;
- Angústias ainda mais intensas quando uma nova perda acontecer, afinal, se nem a primeira foi superada, como lidar com a perda do cachorro pela segunda vez?
Por isso é importante viver o luto, antes de qualquer coisa, e quando os sentimentos passarem a se reorganizar, aí sim pensar em um novo pet.
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O que fazer quando uma criança sofre pela perda do seu cachorro?
Saber lidar com a perda do cachorro não é fácil para nós, adultos, que podemos compreender com mais clareza que as perdas fazem parte da vida. No entanto, crianças podem ter um pouco mais de dificuldade, demonstrando muita dor e tristeza ao perder o grande amigo.
Nosso papel, no entanto, é acolher a criança e criar para ela uma atmosfera que a permita gerenciar os seus sentimentos de uma maneira mais saudável. Veja algumas recomendações importantes:
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Permita que a criança fale sobre os seus sentimentos
É imprescindível que os sentimentos da criança sejam valorizados. Para isso, você precisa demonstrar espaço para que ela fale sobre o que está sentindo.
Não estamos dizendo para você ficar perguntando o tempo todo se a criança “está bem”, mas sim, uma conversa franca, onde você diga que ela poderá falar sobre o que sente, já fará toda a diferença.
Infelizmente ainda vemos muitos adultos dizendo que “criança não tem problema”, o que é uma inverdade. Precisamos valorizar as dores, dúvidas e angústias das crianças, pois a infância pode despertar muitos temores, traumas e medos.
Portanto, quando o assunto é como lidar com a perda do cachorro, priorize o bem-estar da criança permitindo que ela fale claramente sobre a forma como se sente.
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Deixe ela chorar e guardar recordações do pet
Seguindo o raciocínio acima, você precisa permitir que a criança aprenda a lidar com a perda do cachorro a partir das suas lágrimas e dos seus próprios sentimentos. Permita que ela “coloque para fora” o que está sentindo, e jamais desvalorize suas lágrimas.
Se a criança está chorando, nunca a mande engolir o choro. Essa atitude é errada, fria e pode acarretar muitos traumas silenciosos na vida adulta. Reprimir sentimentos jamais será a solução. O segredo é ajudar a criança a lidar e a equilibrar os sentimentos, e não apenas guardá-los.
No mesmo contexto, as lembranças do pet poderão ser um escape para a ruptura profunda e, entretanto, você deve estabelecer uma organização com a criança. Faça-a entender que ficar com todos os pertences do pet não é uma boa ideia, e que muitos deles poderão ajudar outros cãezinhos, mas que ela poderá escolher pelo menos 3 itens que ela gosta bastante, para guardar sempre com ela.
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Faça-a entender que não é a única que perdeu um amiguinho de quatro patas
É claro que você não deve comparar a dor da criança com a de outra, isso, em qualquer contexto, seria uma atitude muito cruel. O que estamos querendo dizer é que você precisa despertar o “senso de comunidade” na criança, para que ela compreenda que perdas fazem parte da vida.
Para isso, você pode contar uma história de quando era criança e tinha um pet que você perdeu, ou contar uma história de alguém que perdeu algum bichinho de estimação. Lembre-se apenas de fazer essa contação de uma forma suave, privando detalhes tristes. A criança precisa apenas entender que perdas existem, e não ficar assustada com o que você contar.
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Aguarde um período para trazer um novo pet para a família
Do mesmo modo como você não deverá encontrar um pet para “substituir” o outro, você precisa esperar que a criança viva o período de luto antes de simplesmente trazer um novo cão para a família. Afinal, lidar com a perda do cachorro pode levar uma semana, um mês ou meses, dependendo do apego da criança.
Por isso, atente-se para a passagem do luto, converse sempre com a criança e quando os sentimentos estiverem mais equilibrados, considere ter um novo pet.
Cuidado com a adoção precoce: Se a criança não viver o seu luto de maneira adequada, poderá reprimir dores que aparecerão com muito mais força na vida adulta. A criança precisa conhecer a frustração para, na fase adulta, ter uma inteligência emocional mais equilibrada.
Lembre-se da frase que diz: “A infância é o chão pelo qual caminharemos o resto de nossas vidas”.
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Leve a criança à psicoterapia
Se apesar de você permitir que a criança fale, chore e tente expressar os seus sentimentos, ela ainda se demonstrar apática, sem vontade de brincar e com dificuldades para reestabelecer a rotina, leve-a à psicoterapia.
O psicólogo poderá auxiliar a criança nesse momento traumático, ajudando-a a compreender o que se passa e criando subsídios para que ela reencontre formas divertidas de viver a sua rotina.
Apenas adote quando o período de luto passar verdadeiramente
Por fim, novamente vamos frisar a importância do processo de luto para lidar com a perda do cachorro. Sem esse processo, não conseguimos reorganizar os sentimentos, e tudo pode parecer muito bagunçado dentro de nós. Por isso, adotar um pet logo em seguida pode ser perigoso e injusto com você e com o novo cão.
Tenha paciência, mantenha as pessoas que você ama por perto e permita-se falar sobre o assunto. Assim, pouco a pouco as dores intensas vão diminuindo e tornando-se lembranças inesquecíveis.