A proibição de cães em espaços públicos no Irã vem ganhando força nos últimos anos, gerando debates sobre direitos dos tutores, tradição religiosa e liberdade individual. Apesar de não haver banimento total de cães como animais de estimação, regras rígidas transformam o uso de coleiras, passeios e transporte em infrações passíveis de punição. Entenda de vez o que está rolando por lá aqui nesse artigo!
Restrições legais e incremento recente
Desde janeiro de 2019, cidades como Teerã proíbem formalmente passeios com cães em parques, ruas e até em veículos. A polícia recebeu autorização da promotoria para aplicar multas e confiscar cães encontrados em espaços públicos, sob justificativa de medo, ansiedade e segurança da população
Em junho de 2025, a medida foi ampliada para mais 17 cidades, alertando que quem descumprir a lei enfrentará ações legais rigorosas. Abbas Najafi, promotor da cidade de Hamedan, no oeste do país, afirmou: “Passear com cães é uma ameaça à saúde pública, à paz e ao conforto”.
Os argumentos oficiais combinam razões religiosas e de “proteção da moral pública”. Cães são considerados impuros (najis) na tradição xiita e vistos como símbolo de ocidentalização, percebidos como ameaça aos valores islâmicos. O Ayatollah Naser Makarem Shirazi chegou a declarar que cães evocam “imitação cega do ocidente” e advertiu que tal comportamento seria nocivo à sociedade. É alegado também que os cães são uma ameaça para a saúde pública.
Legislação ainda em discussão
Há projetos de lei, como o “Proteção dos Direitos Públicos contra Animais”, que visam estabelecer controle sobre a posse de pets em geral, incluindo cães e gatos. A proposta inclui autorização prévia por comitês governamentais e multas elevadas – entre US$ 1 300 e 3 900 – além da possibilidade de confisco animal
Reação da população e desafios práticos
Para muitos iranianos a proibição é contraproducente. Passear com o cão virou gesto de resistência e identidade urbana. Organizações defensora de direitos animais relatam apreensões arbitrárias, maus-tratos a cães “confiscados” e ausência de amparo legal .
Em Tabriz, por exemplo, o Pardis Animal Shelter atua para resgatar cães e gatos da rua, oferecendo atendimento e estocagem, apesar do cenário nacional desafiador
Impacto na sociedade a médio prazo
Especialistas destacam que a proibição pode intensificar práticas clandestinas e reduzir o bem-estar animal. A rigidez religiosa e institucional tende a empurrar a posse de pets para o ambiente doméstico, sem acesso ao exterior, vetando cuidados comuns como passeios e transportes veterinários. Visto que não é permitido nem o transporte em carros particulares.
Para defensores dos direitos dos pets no Irã, como o presidente da associação veterinária, regulamentar, e não proibir, seria a solução mais eficaz.
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A importância do passeio para os cães
Permitir que os cães tenham passeios regulares é fundamental para sua saúde física e mental, além de trazer benefícios para os tutores e a comunidade. Caminhadas ajudam a manter o peso ideal, fortalecer músculos e garantir um coração mais saudável. Durante os passeios, os cães exploram cheiros, sons e cenários diversos, o que estimula o cérebro, reduz o estresse e evita comportamentos destrutivos em casa.
Para os donos, sair com o pet significa mais atividade física, melhora do humor e oportunidades de socialização com vizinhos e outros passeadores. Ter espaços externos seguros, com calçadas adequadas, sombra e áreas pensadas para cães, facilita essa prática e fortalece o vínculo entre humanos e animais, criando espaços mais acolhedores para todos. Proibir os passeios compromete a qualidade de vida dos cães e impede que exploremos o potencial positivo dessa convivência para a saúde pública e a inclusão social.
Cães têm impacto na saúde pública?
Sim. A presença de cães traz riscos à saúde pública, mas proibi-los não é a solução. O problema é a falta de gerenciamento responsável. Afinal, não só os cães trazem algum nível de risco, ratos e morcegos por exemplo também estão inclusos na grande lista de riscos zoonóticos. O melhor caminho é sempre o controle.
Zoonoses e transmissão de doenças
Cães são reservatórios de doenças como raiva, leishmaniose visceral e echinococose. No Irã a raiva ainda é endêmica, e dados de 2016 a 2022 mostram que cães estiveram envolvidos em 81 % dos cerca de 40 922 casos de mordidas por animais no norte do país . A leishmaniose e echinococose também são preocupantes – o país tem programas de vigilância, diagnóstico e controle envolvendo cães .
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Mordidas e agressões
No Irã, cães são responsáveis por um número considerável de mordidas. Cerca de 13,2 por mil pessoas foram vítimas de mordidas entre 1993 e 2013, sobretudo em áreas rurais e em jovens entre 10 e 19 anos .
No norte, entre 2016 e 2022, houve 38,6 casos por 100 000 habitantes, resultando em quatro mortes por raiva .
Poluição por fezes e parasitas ambientais
Cães, especialmente de rua, contribuem para transmissão de parasitas ambientais (Ancylostoma, Toxocara), com risco crítico em áreas urbanas e rurais, especialmente para crianças .
Um caminho melhor que a proibição
Vacinação e controle populacional
Programas de vacinação canina, especialmente em regiões endêmicas de raiva, são eficazes para evitar surtos humanos . A meta de vacinar pelo menos 70 % dos cães domésticos, já reduziria drasticamente a disseminação de doenças como a raiva.
Abordagem “One Health”
A OMS defende uma visão que integra saúde humana, animal e ambiental. No Irã há centros específicos, como o Iranian Research Center for Hydatid Disease, que promovem educação, diagnóstico, controle de zoonoses e manejo ético da população animal. O Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser considerado um exemplo prático da abordagem “One Health” (Saúde Única) em âmbito nacional, aqui no Brasil.
Educação e campanhas
Orientação a tutores sobre higiene, saúde e riscos zoonóticos é essencial. Esclarecimento público reduz mordidas e reforça o cuidado responsável .
Gestão de cães de rua
Castração, abrigos, campanhas de vacinação, adoção responsável e conscientização sobre cuidados com pets são estratégias mais humanas e eficazes do que proibir, apreender ou sacrificar cães, mudando a abordagem de punição para gestão positiva .
Conclusão
Cães influenciam a saúde pública, tanto pela transmissão de zoonoses quanto por agressões e impacto ambiental. Ainda assim, a proibição radical não resolve esses desafios. O foco deve ser a regulamentação equilibrada, com vacinação obrigatória, gestão ética da população de rua, educação e abordagem One Health. Isso reduz riscos sem penalizar setores da população e sem violar a convivência entre humanos e cães. Cães podem e devem fazer parte de uma sociedade saudável, quando há políticas públicas bem estruturadas.