É no meio do lixo, encostado a um carrinho de recolhimento de material reciclável, que Scooby encontra um pouco de conforto desde que seu companheiro, Carlos Miguel dos Santos, 45 anos, morreu. O vira-latas não sacode mais o rabo de felicidade desde a noite de 21 de setembro, quando viu seu melhor amigo ser consumido pelas chamas, assim como o barraco em que viviam, na periferia de Caxias do Sul (134 km de Porto Alegre).

Santos foi morto, segundo a polícia, por quatro menores de idade que tinham uma rixa com o morador de rua. O papeleiro foi socorrido, internado no hospital da cidade com 85% do corpo queimado, mas não resistiu aos sérios ferimentos, morrendo dois dias depois.

Desde então, Scooby, que ao menos havia cinco anos andava pelas ruas de Caxias junto com Santos, está desolado. Ao lado de sua mais nova companheira, Preta, uma cadela também vira-latas que também vivia ao lado de Santos, os dois passam os fins de tarde em um depósito de lixo seco. Eles conhecem o local, já que era ali que, diariamente, Santos descarregava seu carrinho.

O veículo – ou equipamento de trabalho – ainda está por lá, parado. Ninguém tem coragem de tirá-lo dali, do meio do lixo, pois é à sombra dele que Scooby e Preta se deitam.

À espera
“No fim da tarde eles ficam olhando para a entrada do depósito, parece que esperando o momento que o seu Miguel vai chegar”, diz a protetora voluntária Rosita Rech, que tem auxiliado no cuidado dos cães.

Ela conta que, ultimamente, os cachorros seguem outros catadores pelas ruas, mas, à noite, dormem no depósito. “Graças a Deus o dono do local permitiu que eles ficassem por lá. Mas queremos que eles sejam adotados. Como são animais adultos, de médio porte, têm que ir para uma casa com pátio”, disse Rosita. Que adverte: “Mas só serão doados se ficarem sem correntes”.

Rosita não sabe precisar a idade da dupla. Só que Preta foi castrada – justamente no dia da tragédia foi levada por um voluntário para a operação – e que ambos são adultos, mas não idosos.

“Somos uma cidade com mais de 500 mil habitantes e me custa crer que não há uma casa com pátio para abrigar esses cachorros. Esses cães eram muito ligados ao seu Miguel”, comenta emocionada Rosita, há onze anos cuidando de animais abandonados.

A voluntária ressalta que gostaria que os cães fossem morar juntos em um novo lar e que, se o adotante preferir, Scooby pode ser castrado gratuitamente. Quem quiser auxiliar, pode entrar em contato com Rosita Rech pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (54) 9991-9553.

Fonte Uol