Os problemas de comportamento materno em cães são bem comuns e, acabam levando a uma série de questões, afetando inclusive o desenvolvimento dos filhotes.

Isso porque a fêmea e a maneira como ela se comporta é fundamental para que os filhotes sobrevivam, sobretudo durante as suas primeiras semanas.

Além disso, essa experiência inicial influencia diretamente no desenvolvimento cognitivo dos filhotinhos.

Sendo assim, é muito importante que se mantenha um monitoramento da fêmea em todas as etapas, incluindo o pré parto, parto, pôs parto e a fase de amamentação.

O próprio ambiente também influencia diretamente sobre as fêmeas. Mas para entender melhor os problemas de comportamento materno em cães, acompanhe esse texto.

Comportamento materno em cães e o instinto

vários filhotes

Vários filhotes com sua mãe – Foto: Freepik

Antes de falar sobre os problemas de comportamento materno em cães, é preciso esclarecer uma dúvida bastante comum, que diz respeito à existência de um instinto materno.

Antes de mais nada, a ciência comprova que os animais que se reproduzem mais lentamente e têm menos filhotes evoluíram com um instinto de cuidado parental.

Ou seja, para que seja possível a continuidade das espécies, é importante que esses filhotes sejam cuidados adequadamente.

Proteção e cuidado são palavras chave e, de certa forma os cães se assemelham aos humanos, uma vez que está presente a amamentação, por exemplo.

A providência de abrigo, alimento e proteção estimulam o filhotinho física e emocionalmente. Além disso, as cadelas e gatas também cuidam muito bem da higiene da sua cria.

É bem interessante dizer que apesar de se falar muito em instinto maternal nas fêmeas que acaparam de parir, isso também aparece em outros indivíduos.

Mesmo que o comportamento materno se relacione com os hormônios prolactina e ocitocina, até mesmo os machos possuem o instinto de cuidado parental. Ele apenas se manifesta em graus diferentes dependendo da genética.

Animais podem adotar outros sem terem parido

O instinto maternal tanto é forte, que dependendo da situação, um animal pode adotar outro, inclusive de outra espécie, que nem tenha parido.

Ou seja, sem que haja uma ação primária dos hormônios, é possível que fêmeas adotem filhotes que não sejam seus.

Isso acontece basicamente quando algum fator ambiental age como estimulação a esse instinto.

Dessa forma, a fisiologia vai responder aos estímulos por meio da liberação de neurotransmissores e hormônios.

Essas substâncias dentro do organismo vão fazendo uma retroalimentação, que permite que o comportamento parental continue se manifestando.

Além disso, é importante deixar claro que existe um potencial alomaternal, que é específico de cada indivíduo.

Isso é o que define o quanto de cuidados um individuo vai expressar diante dos filhotes. Entre búfalas, por exemplo, é comum que várias fêmeas amamentem o mesmo filhote.

O que acontece é que todas amamentam os filhotes das demais. Assim, uma mesma fêmea pode amamentar uma quinzena de filhotes simultaneamente.

Pesquisas demonstram que roedores e primatas também possuem instinto alomaternal intenso. Esse potencial se refere tanto a amamentação, quanto a questões como higiene, alimentação, brincadeiras e proteção.

Grandes quantidades de hormônios envolvidas

Cadela e filhotes

Cadela e filhotes – Foto: Freepik

A fisiologia da reprodução é algo bastante complexo e, todos os comportamentos que os animaizinhos apresentam estão relacionados a respostas internas a substâncias como neurotransmissores, hormônios e neuropeptídeos.

A ocitocina é o principal hormônio relacionado ao comportamento materno em cães e demais mamíferos.

Popularmente, a ocitocina é chamada de hormônio do amor e, realmente a liberação dela faz com que a fêmea tenha mais comportamentos relacionados à prole.

A ocitocina tem um papel fundamental na amamentação, uma vez que é ela que favorece a ejeção do leite, enquanto que a prolactina é essencial para a produção.

É muito interessante pensar que, mesmo sem que haja uma gestação, se os níveis de prolactina e ocitocina aumentarem, a fêmea poderá amamentar.

Se o animal permitir a sucção, a via sensorial que chega ao cérebro fará a ativação da hipófise e, haverá liberação da ocitocina.

Esse hormônio chega nas glândulas mamárias, estimula o desenvolvimento delas e a contração para a ejeção do leite.

Fatores que moldam o comportamento materno em cães

cadela não consegue parir

Filhote com sua mãe – Foto: Freepik

Primeiramente, deve-se dizer que o comportamento materno em cães e outros mamíferos possui basicamente duas fases.

A primeira é a crítica e se associa às alterações hormonais que ocorrem sobretudo no período do parto.

Posteriormente, a cadela entra em uma fase de manutenção, que está relacionada a questões psicossensoriais, que vai até a fase do desmame.

Sabe-se que de uma forma ou de outra, o comportamento materno em cães sofre a influencia de alguns fatores. Os principais são os seguintes:

Fatores hormonais e estresse

Em cadelas, existe um forte envolvimento hormonal, uma vez que existem substâncias essenciais para que o parto possa ocorrer.

Esses mesmos hormônios também contribuem com a regulação do comportamento materno em cães.

Tudo começa com uma diminuição dos níveis de progesterona, seguida de uma elevação na ocitocina, prolactina, relaxina e prostaglandinas.

Para que tudo isso possa ocorrer, é importante que a cadela esteja em uma situação que seja confortável para ela.

O próprio parto e o inicio da maternidade são estressantes e, se o animal estiver sob estresse intenso, poderá ter ainda mais dificuldades de passar por isso da maneira adequada.

Por isso, é fundamental que a fêmea no final da gestação tenha um local seguro e tranquilo onde ficar. Isso pode ajudar em muito nessa cascata hormonal.

Estimulação vaginocervical e líquido amniótico

A estimulação vaginocervical é fundamental para o comportamento materno. É fácil perceber isso, uma vez que cadelas submetidas à cesariana podem ter problemas de comportamento materno.

De acordo com pesquisas, o líquido amniótico também possui papel importante na aceitação do filhote pela fêmea. Se o filhote for lavado, por exemplo, pode haver rejeição.

Tamanho da ninhada e os problemas de comportamento materno em cães

Antes de falar sobre isso, deve-se dizer que as cadelas que estão na sua primeira cria não apresentam bons comportamentos logo de início, sendo que vão aprimorando-os com o tempo.

Por outro lado, naquelas que não são primíparas, os comportamentos e cuidados parentais são bem mais consistentes.

Além disso, existem uma forte influência na quantidade de filhotes em uma ninhada. As cadelas que têm ninhadas pequenas, tem mais oportunidade de passar mais tempo com cada filhote.

Além disso, elas sentem que podem dar conta deles sem maiores problemas, o que melhora em muita essa relação e favorece os cuidados parentais.

Genética e raça

Mesmo que essa seja uma questão ainda pouco compreendida, já se sabe que a genética influencia diretamente sobre o comportamento materno em cães e a maneira como esses animais lidam com a prole.

Comportamento materno inadequado

problemas de comportamento materno

Cadela com seus filhotes – Foto: Freepik

É possível começar a perceber problemas de comportamento materno logo no momento do parto.

O primeiro deles está associado ao rompimento do saco amniótico e o corte do cordão umbilical. Se a fêmea não tiver os estímulos adequados nesse momento, não conseguirá fazer o que precisa, aumentando em muito as chances de problemas com o filhotinho.

Além disso, logo no momento do nascimento, as cadelas devem lamber os seus filhotinhos, seja para a higienização, seja para a estimulação dos corpinhos.

Quando a cadela se mostra desinteressada por lamber os filhotes logo no momento do parto, é bem comum que hajam muitos problemas comportamentais posteriormente.

Agressividade como parte do comportamento materno

Algo que deve ser dito é que de certa forma, qualquer fêmea que esteja com filhotinhos se mostra mais reativa e completamente pronta para defender a cria.

Isso é natural e completamente instintivo, uma vez que essa defesa é necessária para o sucesso da espécie na natureza.

Por mais que possa acontecer às vezes, agressividade dirigida aos filhos é rara. Mas ela pode ocorrer em relação à pessoas e animais que tentem se aproximar.

Até mesmo as cadelas mais dóceis são capazes de se tornar extremamente agressivas se entenderem algo como sendo uma grave ameaça à sua cria.

Isso é compreensível e contornável, mas se a cadela apresentar agressividade em relação aos filhotes, então é preciso ter muito mais atenção.

Esse tipo de agressividade é mais comum na primeira gestação e, costuma ocorrer nos primeiros dias após o parto. Em casos mais graves, posse-se observar uma situação de canibalismo.

Quando isso acontece, deve-se tentar compreender a motivação exata. Na maioria das vezes, a fêmea se mostra estressada, denutrida ou, ela sente que a quantidade de filhotes é maior do que ela pode conseguir cuidar.

Além disso, estudos sugerem que as cadelas que apresentam canibalismo materno, geralmente apresentam níveis sanguíneos de lipídios e de ocitocina reduzidos.

Falta de produção de leite

A agalactia, ou falta de produção de leite também entra nos problemas de comportamento materno em cães porque está intimamente relacionada a eles.

É comum observar essa condição sobretudo em cadelas que estejam na primeira gestação e, que tenham passado por cesariana precoce.

Sendo assim, nessa condição os hormônios não serão liberados adequadamente pelo estímulo do parto e, pode ser que a fêmea não desenvolva um bom comportamento materno.

É importante deixar claro ainda que a agalactia também pode ocorrer por problemas fisiológicos.

Problemas de comportamento materno em cães prejudicam a ninhada

problemas de comportamento materno

Alimentando os filhotes – Foto: Freepik

O comportamento materno em cães e demais mamíferos é essencial para que os filhotes possam se desenvolver com saúde.

Ademais, existem estudos em ratas que demonstram o quanto o tempo de interação e a qualidade delas é essencial para que os animais se desenvolvam de maneira fisiológica, cognitiva e comportamental adequadas.

Sabe-se que o período neonatal é uma fase na qual o desenvolvimento neurológico do pet ocorre de maneira muito rápida.

Por isso, é essencial que a fêmea esteja por perto para estimular esses filhotinhos a se desenvolverem, para que depois possam viver sozinhos e se virar sem nenhum problema.

No entanto, alguns estudos relacionados ao comportamento animal mostram que tudo isso pode ser bastante paradoxal, uma vez que os o excesso de cuidado também leve esses animais a terem problemas para se virarem sozinhos depois.

Gravidez psicológica

problemas de comportamento materno

Cachorra GrávidaFoto: Freepik

Entre os problemas de comportamento materno em cães podemos citar um que é extremamente comum: a gravidez psicológica.

Esse é um transtorno hormonal que faz com que a cadela pense que passou por uma gestação, mesmo sem que isso jamais tenha ocorrido.

Diante disso, a fêmea passa a ter instintos de proteção e cuidado diante de uma cria que na verdade não existem.

Por conta da alteração dos níveis hormonais, a cadelinha tem aumento abdominal, produção de leite, ganho de peso e presença de secreção vaginal.

Psicologicamente surgem efeitos indesejados, como inquietação, agressividade, irritabilidade e, pode até ser que se desenvolva um quadro de depressão.

A pseudogestação, ou pseudociese, é uma síndrome muito comum e, costuma ocorrer em mais ou menos 70% das cadelas não castradas pelo menos uma vez durante a vida.

No entanto, muitas vezes os sinais passam desapercebidos porque eles podem ser sutis. Então, muitos tutores só se dão conta de que a cadela está com gravidez psicológica quando adota um objeto como filhote e se mostra agressiva quando alguém tenta pegar.

Por mais que algumas pessoas achem isso fofinho, a gravidez psicológica é uma condição grave, que deve ser levada a sério.

Sintomas

Para identificar a gravidez psicológica, fique de olho no aparecimento dos seguintes sinais no seu cãozinho:

  • Comportamento maternal: a cadela vai adotar um objeto, principalmente ursinho de pelúcia e proteger ele como se fosse um filhote;
  • Problemas psicológicos: depressão, agressividade, agitação e irritabilidade são comuns nesse caso;
  • Mudanças físicas: ganho de peso, aumento do volume abdominal, lambedura nas mamas e produção de leite ou secreção clara;

Na maioria dos animais, esses sinais duram em média duas semanas, mas podem durar mais tempo. Então, se os perceber, leve a cadelinha direto ao veterinário para uma avaliação.

A gravidez psicológica tem origem hormonal e precisa ser tratada para evitar problemas. O médico veterinário pode informar quais são as melhores opções, mas na maioria dos casos, a castração é uma excelente alternativa para evitar problemas de comportamento materno em cães.

Conclusão

O comportamento materno em cães é moldado pela fisiologia da fêmea e, pela liberação de hormônios no seu organismo.

Sendo assim, essa é uma questão de grande relevância e, que interfere diretamente na saúde e bem estar dos filhotinhos.